Não há felicidade que resista à continuação de tempos felizes.
Passagens de Carlos Drummond de Andrade
1088 resultadosSegredo
A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
Às vezes, inventar é mais fácil do que nos adaptarmos ao inventado.
Acreditar em nossa própria mentira é o primeiro passo para o estabelecimento de uma nova verdade.
Balzac flagrou a sociedade do seu tempo; os fotógrafos de hoje fazem o mesmo.
Há boas ações que se praticam porque não foi possível deixar de praticá-las.
Para se alcançar um ideal, é necessário ter ambição, e ter ambição é perder de vista o ideal.
Prazer dividido é às vezes prazer solitário a dois.
A loucura é diagnosticada pelos sãos, que não se submetem a diagnóstico.
Na escola literária não há discípulos; só há mestres.
Os homens distinguem-se pelo que fazem; as mulheres, pelo que levam os homens a fazer.
O clitóris tem razões que a mulher desconhece.
Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: Os dias ficaram lindos.
As festas podem ser tão aborrecidas quanto a solidão, ou mais ainda.
Até de seus arrependimentos a mulher extrai novo encanto.
Nos livros tudo se aprende, inclusive a inutilidade de escrevê-los.
Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.
Fala-se tanto, e a idéia de Deus ainda não chegou a constituir uma idéia.
Que Todos os Dias Sejam Dias de Amor
João Brandão pergunta, propõe e decreta:
Se há o Dia dos Namorados, por que não haver o Dia dos Amorosos, o Dia dos Amadores, o Dia dos Amantes? Com todo o fogo desta última palavra, que circula entre o carnal e o sublime?
E o Dia dos Amantes Exemplares e o Dia dos Amantes Platônicos, que também são exemplares à sua maneira, e dizem até que mais?
Por que não instituir, ó psicólogos, ó sociólogos, ó lojistas e publicitários, o Dia do Amor?
O Dia de Fazê-lo, o Dia de Agradecer-lhe, o de Meditá-lo em tudo que encerra de mistério e grandeza, o Dia de Amá-lo? Pois o Amor se desperdiça ou é incompreendido até por aqueles que amam e não sabem, pobrezinhos, como é essencial amar o Amor.
E mais o Dia do Amor Tranqüilo, tão raro e vestido de linho alvo, o Dia do Amor Violento, o Dia do Amor Que Não Ousava Dizer o Seu Nome Mas Agora Ousa, na arrebentação geral do século?
Amor Complicado pede o seu Dia, não para tornar-se pedestre, mas para requintar em sua complicação cheia de vôos fora do horário e da visibilidade. Amor à Primeira Vista,
Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos.