Poemas sobre Infância de Guerra Junqueiro

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Poemas de infância de Guerra Junqueiro. Leia este e outros poemas de Guerra Junqueiro em Poetris.

A Escola Portuguesa

Eis as crianças vermelhas
Na sua hedionda prisĂŁo:
Doirado enxame de abelhas!
O mestre-escola Ă© o zangĂŁo.

Em duros bancos de pinho
Senta-se a turba sonora
Dos corpos feitos de arminho,
Das almas feitas d’aurora.

Soletram versos e prosas
HorrĂ­veis; contudo, ao lĂŞ-las
Daquelas bocas de rosas
Saem murmĂşrios de estrela.

Contemplam de quando em quando,
E com inveja, Senhor!
As andorinhas passando
Do azul no livre esplendor.

Oh, que existĂŞncia doirada
Lá cima, no azul, na glória,
Sem cartilhas, sem tabuada,
Sem mestre e sem palmatĂłria!

E como os dias sĂŁo longos
Nestas prisões sepulcrais!
Abrem a boca os ditongos,
E as cifras tristes dĂŁo ais!

Desgraçadas toutinegras,
Que insuportáveis martírios!
JoĂŁo FĂ©lix co’as unhas negras,
Mostrando as vogais aos lĂ­rios!

Como querem que despontem
Os frutos na escola aldeĂŁ,
Se o nome do mestre é — Ontem
E o do discĂ­p’lo — AmanhĂŁ!

Como é que há-de na campina
Surgir o trigal maduro,
Se Ă© o Passado quem ensina
O b a ba ao Futuro!

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Vendo-a Sorrir

(A minha filha)

Filha, quando sorris, iluminas a casa
Dum celeste esplendor.
A alegria é na infância o que na ave é asa
E perfume na flor.

Ă“ doirada alegria, Ăł virgindade santa
Do sorriso infantil!
Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta
Todo o poema de Abril.

Ao ver esse sorriso, Ăł filha, se concentro
Em ti o meu olhar,
Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro
Com pombas a voar.

Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro,
És o Sol que se eleva.
Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro
O meu manto de treva!

O Primeiro Filho

(Carta ao amigo Bernardo Pindela)

Entre tanta miséria e tantas coisas vis
Deste vil grĂŁo de areia,
Ainda tenho o condĂŁo de me sentir feliz
Com a ventura alheia.

Ă€ minha noite triste, Ă  noite tormentosa,
Onde busco a verdade,
Chegou com asas d’oiro a canção cor-de-rosa
Da tua felicidade.

És pai, viste nascer um fragmento d’aurora
Da tua alma, de ti…
Oh, momento divino em que o sorriso chora,
E em que o pranto sorri!

Que ventura radiante! oh que ventura infinda!
OlĂ­mpicos amores
Ter frutos em Abril com o vergel ainda
Carregado de flores!

Deslumbramento!… ver num berço o teu futuro
Sorrindo ao teu presente!…
Ter a mulher e a mĂŁe: juntar o beijo puro
Com o beijo inocente!…

Eu que vou, javali de flanco ensanguentado,
Pelos rudes caminhos
Ajoelho quando escuto Ă  beira dum valado
Os murmĂşrios dos ninhos!

Em tudo que alvorece há um sorriso d’esperança,
Candura imaculada!…
E quer seja na flor, quer seja na criança
Sente-se a madrugada.

Quando,

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