Sonetos sobre Maio de Manuel Botelho de Oliveira

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Sonetos de maio de Manuel Botelho de Oliveira. Leia este e outros sonetos de Manuel Botelho de Oliveira em Poetris.

Ponderação Do Rosto E Olhos De Anarda

Quando vejo de Anarda o rosto amado,
vejo ao céu e ao jardim ser parecido
porque no assombro do primor luzido
tem o sol em seus olhos duplicado.

Nas faces considero equivocado
de açucenas e rosas o vestido;
porque se vê nas faces reduzido
todo o império de Flora venerado.

Nos olhos e nas faces mais galharda
ao céu prefere quando inflama os raios,
e prefere ao jardim, se as flores guarda:

enfim dando ao jardim e ao céu desmaios,
o céu ostenta um sol, dois sóis Anarda,
um maio o jardim logra; ela dois maios.

Sol E Anarda

O sol ostenta a graça luminosa,
Anarda por luzida se pondera;
o sol é brilhador na quarta esfera,
brilha Anarda na esfera de formosa.

Fomenta o sol a chama calorosa,
Artarda ao peito viva chama altera,
o jasmim, cravo e rosa ao sol se esmera,
cria Anarda o jasmim, o cravo e a rosa.

O sol à sombra dá belos desmaios,
com os olhos de Anarda a sombra é clara,
pinta maios o sol, Anarda maios.

Mas (desiguais só nisto) se repara
o sol liberal sempre de seus raios,
Anarda de seus raios sempre avara.

Vendo A Anarda Depõe O Sentimento

A serpe, que adornando várias cores,
com passos mais oblíquos, que serenos,
entre belos jardins, prados amenos,
é maio errante de torcidas flores;

se quer matar da sede os desfavores,
Os cristais bebe com a peçonha menos,
por que não morra com os mortais venenos,
se acaso gosta dos vitais licores.

Assim também meu coração queixoso,
na sede ardente do feliz cuidado
bebe cos olhos teu cristal formoso;

Pois para não morrer no gosto amado,
depõe logo o tormento venenoso,
se acaso gosta o cristalino agrado.