Poemas sobre Borboletas

25 resultados
Poemas de borboletas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Vigília

No panorama de frio
jazia cristalizado o voo dos gaviões.

Ao seu encontro ia fremente
o respirar da terra quente quase adormecida.

Fluía um riso irónico das dentaduras alvas da neblina
para bocas de ouvidos,
olhos de bocas.

Surgiu então coberto de silêncio
o homem que desde sempre morrera trucidado.

O seu sangue caía enquanto andava.
Das gotas pelo chão se levantaram logo as árvores de fogo
dentro em pouco a floresta incendiária
de todo o frio que o chamava.

E antes que soprasse a ventania
a borboleta colorida foi queimada.

Mas antes que o sol humidamente
repousasse num clarão de olhos fechados,
as cinzas de pirâmides se espalhavam
indo ferir o enorme olho esbugalhado
que de aquém fitava um espaço maior!

Attracção

Meus olhos sempre inquietos
Que posso até dizer,
Só acham n’alma objectos
Que os possam entreter;

Meus olhos… coisa rara!
Porque hão de em ti parar
Como a corrente pára
Em encontrando o mar!?

E penso n’isto, scismo…
Mas é tão natural
Cahir-se no abysmo
D’uma belleza tal!…

Olhei!… Foi indiscreta
A vista que te puz.
A pobre borboleta
Viu luz… cahiu na luz!

Uma attracção mais forte
Que toda a reflexão,
(É fado, é sina, é sorte!)
Me arrasta o coração…

Passa uma Borboleta por Diante de Mim

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

Escreve!

Não sei o que supor
Do teu silêncio. Escreve!
Quem é amado deve
Ser grato ao menos, flor!

Se eu fosse tão feliz
Que te falasse um dia,
De viva voz diria
Mais do que a carta diz.

Mas olha, tal qual é,
Não rias desse escrito,
Que pouco ou muito é dito
Tudo de boa-fé.

Há nesse teu olhar
A doce luz da Lua,
Mas luz que se insinua
A ponto de abrasar…

Pareça nele, sim,
Que há só doçura, embora,
Há fogo que devora…
Que me devora a mim!

Que mata, mas que dá
Uma suave morte;
Mata da mesma sorte
Que uma árvore que há;

Que ao pé se lhe ficou
Acaso alguém dormindo
Adormeceu sorrindo…
Porém não acordou!

Esse teu seio então…
Que encantadora curva!
Como de o ver se turva
A vista e a razão!

Como até mesmo o ar
Suspende a gente logo,
Pregando olhos de fogo
Em tão formoso par!

Continue lendo…

O Amor no Chão

O vento da outra noite derrubou o Amor
Que, no mais misterioso recanto do parque,
Nos sorria, ao esticar malignamente o arco,
E cujo ar nos fez meditar com fervor!

O vento da outra noite derrubou-o! O mármore
com o sopro da manhã, disperso, gira. É triste
Olhar o pedestal, onde o nome do artista
Se lê com muito esforço à sombra de uma árvore,

É triste ver em pé, sozinho, o pedestal!
Melancólicos vêm e vão pensamentos
No meu sonho, onde o mais profundo sofrimento
Evoca um solitário futuro fatal.

É triste! — E mesmo tu, não é? ficas tocada
Plo cenário dolente, embora te divirtas
Com a borboleta rubra e de oiro, que se agita
Sobre a alameda, além, de destroços juncada.

Tradução de Fernando Pinto do Amaral