Quiçá tenho inimigos de minhas opiniões, mas eu mesmo, se espero um momento, posso ser também inimigo de minhas opiniões.
Passagens de Jorge Luis Borges
126 resultadosA esperança é o mais sórdido dos sentimentos.
Em Toda a Biblioteca há Espíritos
Penso que em toda a biblioteca há espíritos. Esses são os espíritos dos mortos que só despertam quando o leitor os busca. Assim, o acto estético não corresponde a um livro. Um livro é um cubo de papel, uma coisa entre coisas. O acto estético ocorre muito poucas vezes, e cada vez em situações inteiramente diferentes e sempre de modo preciso. (…) Detenhamo-nos nesta ideia: onde está a fé do leitor? Porque, para ler um livro, devemos acreditar nele? Se não acreditamos no livro, não acreditamos no prazer da leitura. (…) Acompanhamos a ficção como acontece, de alguma maneira, no sonho.
Só se devem ler livros escritos há mais de cem anos.
O livro é a grande memória dos séculos… se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem.
O que dizemos nem sempre é parecido com o que somos.
No deserto acontece a aurora. Alguém o sabe.
A morte usa-me incessantemente.
Há derrotas que têm mais dignidade do que a própria vitória.
Os melhores escritores não utilizam artifícios; em qualquer caso, os seus artifícios são secretos.
Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.
Nem Sequer Sou Poeira
Não quero ser quem sou. A avara sorte
Quis-me oferecer o século dezassete,
O pó e a rotina de Castela,
As coisas repetidas, a manhã
Que, prometendo o hoje, dá a véspera,
A palestra do padre ou do barbeiro,
A solidão que o tempo vai deixando
E uma vaga sobrinha analfabeta.
Já sou entrado em anos. Uma página
Casual revelou-me vozes novas,
Amadis e Urganda, a perseguir-me.
Vendi as terras e comprei os livros
Que narram por inteiro essas empresas:
O Graal, que recolheu o sangue humano
Que o Filho derramou pra nos salvar,
Maomé e o seu ídolo de ouro,
Os ferros, as ameias, as bandeiras
E as operações e truques de magia.
Cavaleiros cristãos lá percorriam
Os reinos que há na terra, na vingança
Da ultrajada honra ou querendo impor
A justiça no fio de cada espada.
Queira Deus que um enviado restitua
Ao nosso tempo esse exercício nobre.
Os meus sonhos avistam-no. Senti-o
Na minha carne triste e solitária.
Seu nome ainda não sei. Mas eu, Quijano,
Serei o paladino.
Lento em minha sombra, com a mão exploro
Meus invisíveis traços.
Os Meus Livros
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti. Mas viver sem amor acho impossível.
Não há prazer mais complexo que o do pensamento.
Antes, as distâncias eram maiores porque o espaço se media pelo tempo.
Obscuramente livros, lâminas, chaves seguem minha sorte.
Eu não falo de vingança nem de perdão, o esquecimento é a única vingança e o único perdão
É preciso ter cuidado ao escolher os inimigos, porque acabamos por nos parecer com eles.