Poemas sobre Fidalgos

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Poemas de fidalgos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

EsplĂŞndida

Ei-la! Como vai bela! Os esplendores
Do lĂşbrico Versailles do Rei-Sol!
Aumenta-os com retoques sedutores.
É como o refulgir dum arrebol
Em sedas multicores.

Deita-se com langor no azul celeste
Do seu landau forrado de cetim;
E os seus negros corcéis que a espuma veste,
Sobem a trote a rua do Alecrim,
Velozes como a peste.

É fidalga e soberba. As incensadas
Dubarry, Montespan e Maintenon
Se a vissem ficariam ofuscadas
Tem a altivez magnética e o bem-tom
Das cortes depravadas.

É clara como os pós à marechala,
E as mĂŁos, que o Jock Club embalsamou,
Entre peles de tigres as regala;
De tigres que por ela apunhalou,
Um amante, em Bengala.

É ducalmente esplêndida! A carruagem
Vai agora subindo devagar;
Ela, no brilhantismo da equipagem,
Ela, de olhos cerrados, a cismar
Atrai como a voragem!

Os lacaios vĂŁo firmes na almofada;
E a doce brisa dá-lhes de través
Nas capas de borracha esbranquiçada,
Nos chapéus com reseta, e nas librés
De forma aprimorada.

E eu vou acompanhando-a,

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Ruinas

Pandeiros rôtos e côxas táças de crystal aos pés da muralha.

Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princezas mortas.

Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mĂŁos esguias e de cabelleiras embranquecidas.

Aquellas ameias cingiram uma noite peccados sem fim; e ainda guardam os segredos dos mudos beijos de muitas noites. E a lua velhinha todas as noites rĂ©za a chorar: Era uma vez em tempo antigo um castello de nobres naquelle lugar… E a lua, a contar, pára um instante – tem mĂŞdo do frio dos subterraneos.

Ouvem-se na sala que já nem existe, compassos de danças e rizinhos de sêdas.

Aquellas ruinas sĂŁo o tumulo sagrado de um beijo adormecido – cartas lacradas com ligas azues de fechos de oiro e armas reais e lizes.

Pobres velhinhas da cĂ´r do luar, sem terço nem nada, e sempre a rezar…

Noites de insonia com as galés no mar e a alma nas galés.

Archeiros amordaçados na noite em que o cĂ´che era de volta ao palacio pela tapada d’El-rei. Grande caçada na floresta–galgos brancos e Amazonas negras.

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NĂłs Somos Vida das Gentes

Sempre Ă© morto quem do arado
há-de viver.

NĂłs somos vida das gentes,
e morte de nossas vidas;
a tiranos pacientes
que a unhas e a dentes
nos tĂŞm as almas roĂ­das.
Pera que Ă© parouvelar?
Que queira ser pecador
o lavrador,
nĂŁo tem tempo nem lugar
nem somente d’alimpar
as gotas do seu suor.

N’ergueija bradam co’ele,
porque assoviou a um cĂŁo;
e logo excomunhĂŁo na pele,
o fidalgo, maçar nele,
atá o mais triste rascão.
Se nĂŁo levam torta a mĂŁo,
nĂŁo lhe acham nenhum dereito.
Muito atribulados sĂŁo!
Cada um pela o vilĂŁo
per seu jeito.

Trago a prepĂłsito isto,
perque veio a bem de fala.
Manifesto está e visto
que o bento Jesu Cristo
deve ser homem de gala.
E Ă© rezĂŁo que nos valha
neste serĂŁo glorioso,
que Ă© gram refĂşgio sem falha.
Isto me faz forçoso,
e nĂŁo estou temeroso
nemigalha.

(excerto)