Poemas sobre Maio de José Manuel Mendes

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Poemas de maio de José Manuel Mendes. Leia este e outros poemas de José Manuel Mendes em Poetris.

Não Voltarás

não voltarás
olhando as ruas
na vidraça nua os zimbros
da terra ocre

moras secreta nestes barros
tua flauta canta nas montanhas
pedras e trepadeiras se enroscam
perto do teu rosto
e sĂŁo de
água

sabes plantar o odor
dos frutos
tangerina limĂŁo
pássaras orvalho
a nervura das manhĂŁs
e o lume dos poemas
quente metalurgia
das palavras

como ontem (tu eras morta)
prolonga-te nestas mĂŁos
no maio das rotas
de abril
tecidas

Estes Homens

estes homens
abrem as portas
do sol nascente

conhecem os Ă­ntimos latejos
da cal as soltas águas
os fermentos as uvas
os cĂ­lios discretos do pĂŁo

amam as urzes e as fontes
o suor dos fenos
a febre moira de um corpo
de mulher

estes homens
partem a pedra
com martelos de solidĂŁo
(os olhos abismados
nos goivos
da lonjura)

erguem as paredes
as janelas crepusculares
as asfaimadas antenas das cidades:
céu de cimento; baba remota
do cansaço

estes homens
tamisam cores: viajam nos navios
pescam no cisco das pérolas
do vidro
sĂŁo garimpeiros
de uma esponja
de coral

moldam nas forjas
as sĂ­labas secretas
do ferro
afeiçoam os seixos e o linho
o bafo marĂ­timo
das palavras

estes homens
dizem casa com dezembro
nas veias
ternura com a sede de uma seara
grávida
assobiam comovidos contra as sombras
trazem na algibeira
o trevo rugoso das cantigas

estes homens:
guardadores de cabras
e de mágoas
de espantos e revoltas
servos emigrantes
contrabandistas
soldados andarilhos do mar
carabineiros da má sorte
trepadores das sete colinas
operários
azeitoneiros
ratinhos
levantam por maio
os cantis do lume: voz de musgo
concha entreaberta
estes homens
(pátria viva;

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