Poemas sobre Mar de Mário Cesariny

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Poemas de mar de Mário Cesariny. Leia este e outros poemas de Mário Cesariny em Poetris.

radiograma

Alegre triste meigo feroz bĂŞbedo
lĂşcido
no meio do mar

Claro obscuro novo velhĂ­ssimo obsceno
puro
no meio do mar

Nado-morto Ă s quatro morto a nada Ă s cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar

Ortofrenia

Aclamações
dentro do edifício inexpugnável
aclamações
por já termos chapéu para a solidão
aclamações
por sabermos estar vivos na geleira
aclamações
por ardermos mansinho junto ao mar
aclamações
porque cessou enfim o ruĂ­do da noite a secreta alegria por escadas
de caracol
aclamações
porque uma coisa é certa: ninguém nos ouve
aclamações
porque outra é indubitável: não se ouve ninguém

homenagem a cesário verde

Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um Ăşltimo cigarro
um feijĂŁo branco em sangue e rolas cozidas

Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!

visto a esta luz

Visto a esta luz Ă©s um porto de mar
como reverberos de ondas onde havia mĂŁos
rebocadores na brancura dos braços

Constroem-te um ponte
que deverá cingir-te os rins para sempre

O que há horrível no teu corpo diurno
Ă© a sua avareza de palavras
Ă©s tu inutilmente iluminado e quente
como um resto saĂ­do de outras eras
que te fizeram carne e se foram embora
porque verdade sem erro certo verdadeiro
nada era noite bastante para tocarmos melhor
as nossas mãos de nautas navegando o espaço
os corpos um e dois do navio de espelhos
filhos e filhas do imponderável
de cabeça para baixo a ver a terra girar

Quero-te sempre como nĂŁ querer-te?
mas esta luz de sinopla nas calças!
este interposto objecto
e o seu leve peso de eternidade