Poemas sobre Passos de Reynaldo Valinho Alvarez

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Poemas de passos de Reynaldo Valinho Alvarez. Leia este e outros poemas de Reynaldo Valinho Alvarez em Poetris.

A Coragem no Gesto de Viver

O solitĂĄrio gesto de viver
nĂŁo demanda a coragem que hĂĄ na faca,
na ponta do punhal e até no grito
de quem fala mais alto e estĂĄ coberto
de razÔes, de certezas, de verdades.
O gesto de viver se oculta em dobras
tĂŁo Ă­ntimas do ser, que o desfazĂȘ-las
Ă© mais que indelicado, Ă© violĂȘncia
que nem sequer se pode conceber.
O gesto de viver Ă© sĂł coragem,
mas, de tal forma prĂłprio e incomparĂĄvel,
que nĂŁo se exprime em verbo, imagem, mĂ­mica
ou qualquer outra forma conhecida
de contar, definir ou explicar.
A coragem no gesto de viver
estĂĄ em coisas simples, por exemplo,
na diĂĄria decisĂŁo de levantar.
E mais, em se vestir e trabalhar
por entre espadas, punhos e navalhas,
peito aberto, sem armas, passo firme,
e Ă  noite, ainda intacto, regressar.

A EssĂȘncia nĂŁo se Perde

Com a firmeza de passos sem retorno,
carregar o que foi dentro de si,
sem chorar a partida, sem temer
deixar o que afinal vai bem marcado
com seu selo de coisa inesquecĂ­vel.
A essĂȘncia nĂŁo se perde, vai connosco
e extravasa dos dedos quando escrevem,
salta fora da boca quando fala,
transpira pela pele, sai dos ossos,
Ă© lançada dos mĂșsculos em arco
e circula no sangue das artérias.
Os pagos, as querĂȘncias nĂŁo se perdem,
se penetram nos ossos, moram neles,
nĂŁo como o minuano passageiro,
mas sim como a medula que sustenta
o circuito do corpo e o movimenta,
impedindo que pare, morra e penda
como trouxa de pano, como penca
tombada de seu pé, como o vazio,
a coisa sem recheio, a casca murcha,
o fruto despojado de si mesmo.