Aquella Orgia
N贸s eramos uns dez ou onze convidados,
– Todos buscando o gozo e achando o abatimento,
E todos afinal vencidos e quebrados
No combate da Vida inutil e incruento.Tocava o termo a ceia – e ia surgindo o alvor
Da madrugada vaga, etherea e crystallina,
A alguns trazendo a vida, e enchendo outros de horor,
Branca como uma flor de prata florentina.Todos riam sem causa. – A estolida batalha
Da Materia e da Luz travara-se afinal,
E eram j谩 c么r de vinho os risos e a toalha,
– E arrojavam-se ao ar os copos de crystal.Crusavam-se no ar ditos como facadas;
Escandalos de amor, historias sensuaes…
– Rolavam nos divans caindo, 谩s gargalhadas,
Sujos como tru玫es, torpes como animaes.Um agitando o ar com risos desmanchados,
Recitava can莽玫es, far莽as, Hamlet e Ophelia;
– Outro perdido o olhar, e os bra莽os encruzados,
De bru莽os, n’um divan, roia uma camelia!Outros fingindo a d么r, fallavam dos ausentes,
Das amantes, dos paes, com gritos d’afflic莽茫o,
– Um brandia um punhal, com ditos incoherentes;
Poemas sobre Vento de Ant贸nio Gomes Leal
4 resultadosMysticismo Humano
A alma 茅 como a noute escura, immensa e azul,
Tem o vago, o sinistro, e os canticos do sul,
Como os cantos d’amor serenos das ceifeiras
Que cantam ao luar, 谩 noute pelas eiras…
脕s vezes vem a nevoa 谩 alma satisfeita,
E cae sombria, vaga, e meuda e desfeita…
E como a folha morta em lagos somnolentos
As nossas illus玫es v茫o-se nos desalentos!Tem um poder immenso as Cousas na tristeza!
Homem! conheces tu o que 茅 a natureza?…
– 脡 tudo o que nos cerca – 茅 o azul, o escuro,
脡 o cypreste esguio, a planta, o cedro duro,
A folha, o tronco a flor, os ramos friorentos,
脡 a floresta espessa esguedelhada aos ventos;
N茫o entra o vicio aqui com beijos dissolutos,
Nem as lendas do mal, nem os choros dos lutos!…– E os que viram passar serenos os seus dias…
E curvados se v茫o, 谩s longas ventanias,
Cheio o peito de sol, atravez das florestas,
脕 calma do meio dia… e dormiam as sestas,
Tranquillos sobre a eira, entre as hervas nas leivas…
Em Viagem
Ia o vap么r singrando velozmente
O verde mar ant铆go e caprixoso,
脕 rude voz do capit茫o Contente, –
Um rubro homem do mar silencioso.Demandava a Madeira, – a ilha bella,
A patria excelsa e celebre do vinho,
A viagem foi curta; e no caminho
Intentei rela莽玫es com Arabella.Arabella era a lyrica ingleza,
Loura, pallida e fragil como um vime,
Que traz sempre a sua alma meiga presa
D’algum amor profundo, mas sublime.O londrino, o Antony d’esses amores,
Era um rubro e excentrico burguez,
Mais amigo do bife que das flores,
– A extravagancia de chapeu inglez,Seu olhar dubio, incerto e trai莽oeiro
Tinha vis玫es de sangue derramado
Em toda a parte; ao todo um ex-banqueiro,
– Um calvo, velho amigo do Peccado!Nunca o olhar fitava em sitio certo; –
Vogava 谩s vezes s贸 no tombadilho,
Com um comprido e merencorio filho,
E ninguem viu-lhe um riso franco e aberto.Punha, 谩s vezes, no mar o olhar sombrio;
E ao vento, a fita branca do chapeu
Dir-se-hia a vella triste d’um navio
De naufragos,
Tristissima
N’um paiz longe, secreto,
Lendaria ilha affastada,
Jaz todo o dia sentada
N’um throno de marmor preto.No seu palacio esculpido
N茫o entram constella莽玫es;
Os tectos dos seus sall玫es
S茫o todos d’ouro polido!Nas largas escadarias
Sobem vassallos ao cento,
De noute sulu莽a o vento
N’aquellas tape莽arias.E pelas largas janellas
Fechadas, sempre corridas,
Ha flores desconhecidas
Que n茫o olham as estrellas.Na dextra segura um calix,
– Calix da D么r e da Magoa!
Onde est谩 contida a agoa
E o sangue dos nossos males!Pelas florestas sosinhas
Escuras, sem rouxinoes,
Erram chorando os Heroes,
E as desgra莽adas Rainhas.Seguida, 谩 noute, de servas,
Caminha, em cortejo mudo,
Rojando o negro velludo
De seu cabello nas hervas.S贸mente ao vel-a passar
Ficam as almas surprezas;
– Ha todo um mar de tristezas
No abismo do seu olhar!