Poemas sobre Vento de Francisco de Oliveira Carvalho

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Poemas de vento de Francisco de Oliveira Carvalho. Leia este e outros poemas de Francisco de Oliveira Carvalho em Poetris.

As Amadas Passam como o Vento

Um dia percebemos que as amadas se evaporam
no ar como se nunca tivessem existido.
Sombras de pássaros na água

elas emigram para lugares distantes
ou talvez para alguma estrela
dessas que flamejam nos trapézios do céu.

As amadas passam como o vento
sĂŁo inconstantes como as brisas que derrubam
as folhas mortas de um pomar.

Semelhantes a esses gatos de pelĂşcia
que nos arranham com seus bigodes de mercĂşrio
e vĂŁo-se lambuzar no pires de leite.

As amadas, quando vĂŁo embora,
deixam apenas a memĂłria do perfume
como um punhal cravado em nosso peito.

[Argila ErĂłtica: 8]

Improviso

Nem sĂł de chuva
se tece a nuvem
nem sĂł de evento
se inventa o vento.

Nem sĂł de fala
se engendra o grito
nem sĂł de fome
prospera o trigo.

Nem sĂł de raiva
arde a metáfora
nem sĂł de enigmas
se enfeita o nada.

Nem sĂł de parca
o céu nos singra
nem sĂł de pĂŁo
se morre Ă  mĂ­ngua

Nem só de pégaso
escapa o seio
para essa concha
partida ao meio.

Enterro de Luxo

Lá vai o enterro de luxo
puxado por sete cavalos
lá vai a rosa de plástico
na lapela do cadáver.

Lá vai o defunto imberbe
boiando em madeira nobre
lá vai a língua bilingue
com seu sotaque podre.

Lá vai o queixo amarrado
lá vai a gravata oblíqua
montada na escorreguenta
garupa da metafĂ­sica.

Lá vai o enterro de luxo
lá vai a conta bancária
lá vai a calva engomada
lá vai o ouro da cárie.

Lá vai o enterro de luxo
levado por ventos negros
lá vão os pendões de luto
com seus narizes alegres.

Lá vai o enterro de luxo
lá vai o perfil de árabe
tangido pra correnteza
volĂşvel da eternidade.