Sonetos sobre Costas de Anibal BeƧa

3 resultados
Sonetos de costas de Anibal BeƧa. Leia este e outros sonetos de Anibal BeƧa em Poetris.

Ciclo Terreno

Só morta a natureza se comporta
na expectativa podre dessas frutas
amolecidas no chão que as conforta
para o vƓo de moscas dissolutas.

Esse tempo ruído rói a crosta
de rugas ventiladas na disputa
de asas amaciando a pele morta
deixando Ć  mostra o feto do desfruto.

O cheiro cavo amaro pousa Ć s costas
do vento que carrega no azedume
sementes de tanino em seu curtume.

SĆ£o muitos comensais nesse repasto
velando o transitório na certeza
sabendo que outra fruta volta Ć  mesa.

O CĆ£o

O cão da caravana acoita sarnas
pelos pĆŖlos tragados de suor
que encarnam carnaduras jĆ” de cor
na salteada costa descarnada

O cão da caravana esconde as armas
o fogo e a cinza dessa cauda cor-
rente ao dorso de estrelas apagadas
se acendem cimitarras para a dor

Ao relho e aos ossos pó entre mil noites
dita a desdita escrita: Maktub!
E o cão se assenta dócil para o açoite

Mas lhe aguarda a tarefa de quem ladra
e exorcisa a baraka dos impuros
enquanto a vida caravana passa

A Morte Sendo Amor

Quantas vezes subi com a pedra Ć s costas
para depois descer com o mesmo fardo
torneio em que sou alvo do meu dardo
próprio, a sangrar nas tÔvolas de apostas.

NĆ£o me sei vencedor. Tampouco guardo
as dores, ou fraturas mais expostas.
Sei que vou quando chego e não me tardo.
Lição que é nascitura e de ocasos

na transversal em curva me celebro
o vencedor, o torto sem atrasos.
Eis aĆ­ a certeza derradeira

que chega invitƔvel sem ter prazos:
vivi todas subidas e descidas
amortecendo o amor sem as feridas