Doente
A lua veio… foi-se… e em breve ainda,
HĆ” de voltar, a doce lua amada,
Sem que eu a veja, a minha fada linda,
Sem que eu a veja, a minha boa fada.Ela hƔ de vir, OfƩlia desmaiada,
Sob as nuvens do cƩu na alvura infinda
Do seu branco roupão, noiva gelada,
Boiando Ć flor de um rio que nĆ£o finda.Ela hĆ” de vir, sem que eu a veja… Entanto,
Com que tristezas e saudoso encanto
Choro estas noites que passando vĆ£o…Ć lua! mostra-me o teu rosto ameno:
Olha que murcha Ć falta de sereno
O lĆrio roxo do meu coração!
Sonetos sobre Noivos de Auta de Souza
3 resultadosTudo Passa – II
O coração nĆ£o morre: ele adormece…
E antes morresse o coração traĆdo,
Mulher que choras teu amor perdido,
Amor primeiro que não mais se esquece!Quando tu vais rezar, quando anoitece,
Beijas as contas do colar partido;
E o coração n’um trĆŖmulo gemido
Vem perturbar a paz de tua prece.Reza baixinho, ó noiva desolada!
E quando, Ć tarde, pela mesma estrada
Chorando fores esse imenso amor…Geme de manso, juriti dolente!
Vais acordar o coração doente…
NĆ£o o despertes para nova dor.
CrepĆŗsculo
A Julia Lyra
O Angelus soa. Vagarosamente
A noite desce, plƔcida e divina.
Ouço gemer meu coração doente
Chorando a tarde, a noiva peregrina.HƔ pelo EspaƧo um ciciar dolente
De prece em torno da Igrejinha em ruĆna…
PƔssaros voam compassadamente;
Treme no galho a rosa purpurina…E eu sinto que a tristeza vem suspensa
Sobre as asas da noite erma e sombria…
E que, n’essa hora de saudade imensa,Rindo e chorando desce ao coração:
Toda a doƧura da melancolia,
Todo o conforto da recordação.