Sonetos sobre Noivos de Auta de Souza

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Doente

A lua veio… foi-se… e em breve ainda,
HĆ” de voltar, a doce lua amada,
Sem que eu a veja, a minha fada linda,
Sem que eu a veja, a minha boa fada.

Ela hƔ de vir, OfƩlia desmaiada,
Sob as nuvens do cƩu na alvura infinda
Do seu branco roupão, noiva gelada,
Boiando à flor de um rio que não finda.

Ela hĆ” de vir, sem que eu a veja… Entanto,
Com que tristezas e saudoso encanto
Choro estas noites que passando vĆ£o…

Ɠ lua! mostra-me o teu rosto ameno:
Olha que murcha Ć  falta de sereno
O lírio roxo do meu coração!

Tudo Passa – II

O coração nĆ£o morre: ele adormece…
E antes morresse o coração traído,
Mulher que choras teu amor perdido,
Amor primeiro que não mais se esquece!

Quando tu vais rezar, quando anoitece,
Beijas as contas do colar partido;
E o coração n’um trĆŖmulo gemido
Vem perturbar a paz de tua prece.

Reza baixinho, ó noiva desolada!
E quando, Ć  tarde, pela mesma estrada
Chorando fores esse imenso amor…

Geme de manso, juriti dolente!
Vais acordar o coração doente…
NĆ£o o despertes para nova dor.

CrepĆŗsculo

A Julia Lyra

O Angelus soa. Vagarosamente
A noite desce, plƔcida e divina.
Ouço gemer meu coração doente
Chorando a tarde, a noiva peregrina.

HƔ pelo EspaƧo um ciciar dolente
De prece em torno da Igrejinha em ruĆ­na…
PƔssaros voam compassadamente;
Treme no galho a rosa purpurina…

E eu sinto que a tristeza vem suspensa
Sobre as asas da noite erma e sombria…
E que, n’essa hora de saudade imensa,

Rindo e chorando desce ao coração:
Toda a doƧura da melancolia,
Todo o conforto da recordação.