Sonetos sobre Próprio de Alexandre O'Neill

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Sonetos de próprio de Alexandre O'Neill. Leia este e outros sonetos de Alexandre O'Neill em Poetris.

A Morte, esse Lugar-Comum

É trivial a morte e há muito se sabe
fazer – e muito a tempo! – o trivial.
Se não fui eu quem veio no jornal,
foi uma tosse a menos na cidade…

A caminho do verme, uma beldade
— não dirias assim, Gomes Leal? —
vai ser coberta pela mesma cal
que tapa a mais intensa fealdade.

Um crocitar de corvo fica bem
neste anúncio de morte para alguém
que não vê n’alheia sorte a própria sorte…

Mas por que não dizer, com maior nojo,
que um menino saiu do imenso bojo
de sua mãe, para esperar a morte?…

O Beijo

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu…)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar…