Paciência, um Sofrimento Voluntário
Tu és, ó Paciência, um sofrimento
Voluntário, fiel, bem ordenado,
Da conhecida sem razão tirado,
De um constante varão nobre ornamento.Tu, recolhendo n’alma o pensamento,
Suportas com valor o Tempo irado.
Tu sustentas, com ânimo esforçado,
Todo o peso do mal, no bem atento.Magnânima tu és, tu és Constância,
Cedro que não derruba a tempestade,
Rocha, onde a fúria quebra o mar com ânsia.Tu triunfas da mesma Adversidade.
Subjugando as paixões co’a Tolerância,
Tu vences os ardis da vil Maldade.
Sonetos sobre Valor de Francisco Joaquim Bingre
3 resultadosÀ Sua Velhice
Meu corpo assaz tem sido espicaçado
Com buídos punhais, por mão da Morte,
Que arrebatado tem, da minha corte,
Grande rancho de quanto tenho amado.Não me poupa a cruel no triste estado
Do caduco viver da minha Sorte:
Quando era vigoroso, moço forte,
Suportava com mais valor meu Fado.Então as minhas ásperas feridas
Não tinham para mim tardias curas,
Porque o Tempo receitas tem, sabidas.Mas velho e c’o vapor das sepulturas,
Como posso curar as desabridas
Chagas, das minhas novas amarguras?
A Minha Amada Será um Assombro de Beleza
Muitos hão-de julgar que a minha amada
Será um raro assombro de beleza.
Porém, não é assim, à Natureza
Ela só deve uma Alma bem formada.Os dotes pessoais de que é ornada
São filhos duma pura singeleza:
A constância, lealdade, amor, firmeza,
Nos versos meus a fazem decantada.O seu cândido ser só eu conheço,
O valor que ela tem não se presume:
Só eu, que os seus afectos lhe mereço.Em seu peito de Amor, não morre o lume
Eu amo um coração que não tem pressa,
Uma Alma singular, Marília, um Nume.