Poemas sobre Amantes de Ant贸nio Gomes Leal

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Poemas de amantes de Ant贸nio Gomes Leal. Leia este e outros poemas de Ant贸nio Gomes Leal em Poetris.

Aquella Orgia

N贸s eramos uns dez ou onze convidados,
– Todos buscando o gozo e achando o abatimento,
E todos afinal vencidos e quebrados
No combate da Vida inutil e incruento.

Tocava o termo a ceia – e ia surgindo o alvor
Da madrugada vaga, etherea e crystallina,
A alguns trazendo a vida, e enchendo outros de horor,
Branca como uma flor de prata florentina.

Todos riam sem causa. – A estolida batalha
Da Materia e da Luz travara-se afinal,
E eram j谩 c么r de vinho os risos e a toalha,
– E arrojavam-se ao ar os copos de crystal.

Crusavam-se no ar ditos como facadas;
Escandalos de amor, historias sensuaes…
– Rolavam nos divans caindo, 谩s gargalhadas,
Sujos como tru玫es, torpes como animaes.

Um agitando o ar com risos desmanchados,
Recitava can莽玫es, far莽as, Hamlet e Ophelia;
– Outro perdido o olhar, e os bra莽os encruzados,
De bru莽os, n’um divan, roia uma camelia!

Outros fingindo a d么r, fallavam dos ausentes,
Das amantes, dos paes, com gritos d’afflic莽茫o,
– Um brandia um punhal, com ditos incoherentes;

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Lisboa

De certo, capital alguma n’este mundo
Tem mais alegre sol e o ceu mais cavo e fundo,
Mais collinas azues, rio d’aguas mais mansas,
Mais tristes prociss玫es, mais pallidas crean莽as,
Mais graves cathedraes – e ruas, onde a esteira
Seja em tardes d’estio a flor de larangeira!

A Cidade 茅 formosa e esbelta de manh茫! –
脡 mais alegre ent茫o, mais limpida, mais s茫;
Com certo ar virginal ostenta suas gra莽as,
Ha vida, confus茫o, murmurios pelas pra莽as;
– E, 谩s vezes, em roup茫o, uma violeta bella
Vem regar o craveiro e assoma na janella.

A Cidade 茅 beata – e, 谩s lucidas estrellas,
O Vicio 谩 noute sae 谩s ruas e 谩s viellas,
Sorrindo a perseguir burguezes e estrangeiros;
E 谩 triste e dubia luz dos ba莽os candieiros,
– Em bairos sepulchraes, onde se d茫o facadas –
Corre 谩s vezes o sangue e o vinho nas cal莽adas!

As mulheres s茫o v茫s; mas altas e morenas,
D’olhos cheios de luz, nervosas e serenas,
Ebrias de devo莽玫es, relendo as suas Horas;
– Outras fortes, crueis, os olhos c么r d’amoras,

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A Ultima Serenada do Diabo

No tempo em que elle, nas lendas,
Era amante e cortez茫o,
Jogava, e tinha contendas,
Cantava assim em Mil茫o:

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脫 flores meigas, 贸 Bellas!
Para prender os toucados,
Eu dar-vos-hia as estrellas:
– Os alfinetes dourados!

S贸 pelo amor quebro lan莽as! –
A Rainha de Navarra
Enleou um dia as tran莽as
No bra莽o d’esta guitarra!

Sou um heroe perseguido!…
Mas inda ha luz nos meus rastros;
A lan莽a que me ha ferido
Foi feita do ouro dos astros!

Mas um dia, 贸 bem amadas!
Eu tornaria 谩s alturas…
Subindo pelas escadas
Das vossas tran莽as escuras!

O amor que em meu peito cabe
N茫o conta diques, 贸 bellas!
S贸 minha guitarra o sabe,
E aquellas velhas estrellas!

脫 batalhas amorosas!
– Era d’aventuras cheia!
脫 brancas noutes saudosas
Que eu andei pela Judea!

脫 flores apetecidas!
Livros escriptos com beijos!
脫 brancas aves fugidas
Dos jardins dos meus desejos!

N茫o me deixeis no abandono
脫 tristes olhos leaes!

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Mysticismo Humano

A alma 茅 como a noute escura, immensa e azul,
Tem o vago, o sinistro, e os canticos do sul,
Como os cantos d’amor serenos das ceifeiras
Que cantam ao luar, 谩 noute pelas eiras…
脕s vezes vem a nevoa 谩 alma satisfeita,
E cae sombria, vaga, e meuda e desfeita…
E como a folha morta em lagos somnolentos
As nossas illus玫es v茫o-se nos desalentos!

Tem um poder immenso as Cousas na tristeza!
Homem! conheces tu o que 茅 a natureza?…
– 脡 tudo o que nos cerca – 茅 o azul, o escuro,
脡 o cypreste esguio, a planta, o cedro duro,
A folha, o tronco a flor, os ramos friorentos,
脡 a floresta espessa esguedelhada aos ventos;
N茫o entra o vicio aqui com beijos dissolutos,
Nem as lendas do mal, nem os choros dos lutos!…

– E os que viram passar serenos os seus dias…
E curvados se v茫o, 谩s longas ventanias,
Cheio o peito de sol, atravez das florestas,
脕 calma do meio dia… e dormiam as sestas,
Tranquillos sobre a eira, entre as hervas nas leivas…

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Em Viagem

Ia o vap么r singrando velozmente
O verde mar ant铆go e caprixoso,
脕 rude voz do capit茫o Contente, –
Um rubro homem do mar silencioso.

Demandava a Madeira, – a ilha bella,
A patria excelsa e celebre do vinho,
A viagem foi curta; e no caminho
Intentei rela莽玫es com Arabella.

Arabella era a lyrica ingleza,
Loura, pallida e fragil como um vime,
Que traz sempre a sua alma meiga presa
D’algum amor profundo, mas sublime.

O londrino, o Antony d’esses amores,
Era um rubro e excentrico burguez,
Mais amigo do bife que das flores,
– A extravagancia de chapeu inglez,

Seu olhar dubio, incerto e trai莽oeiro
Tinha vis玫es de sangue derramado
Em toda a parte; ao todo um ex-banqueiro,
– Um calvo, velho amigo do Peccado!

Nunca o olhar fitava em sitio certo; –
Vogava 谩s vezes s贸 no tombadilho,
Com um comprido e merencorio filho,
E ninguem viu-lhe um riso franco e aberto.

Punha, 谩s vezes, no mar o olhar sombrio;
E ao vento, a fita branca do chapeu
Dir-se-hia a vella triste d’um navio
De naufragos,

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Aos Vencedores

Visto que tudo passa e as 茅picas memorias
Dos fortes, dos heroes, se v茫o cada vez mais,
Que tudo 茅 luto e p贸! 贸 v贸s que triumphaes
N茫o turbeis a raz茫o nos vinhos das v茫as glorias!

N茫o ergais alto a ta莽a, 谩 hora dos gemidos,
Esquecidos talvez nos gosos, nos regallos;
E n茫o fa莽aes j谩mais pastar vossos cavallos
Na herva que cobrir os ossos dos vencidos!

N茫o celebreis j谩mais as festas dos noivados,
N茫o encontreis na volta os lugubres cortejos!
– E se amardes, olhae que ao som dos vossos beijos
N茫o respondam da pra莽a os ais dos fusilados!

Sim! – se venceste emfim, folgae todas as horas,
Mas deixae lastimar-se os orph茫os, as amantes,
Nem fa莽aes, junto a n贸s, altivos, triumphantes,
Pelas ruas demais tinir vossas esporas!

Pois toda a gloria 茅 p贸! toda a fortuna v茫! –
– E n贸s lassos emfim dos prantos dolorosos,
Reg谩mos j谩 demais a terra–贸 gloriosos
Vencedores! talvez, – vencidos d’amanh茫!