Madrigal Excentrico
Tu que n茫o temes a Morte,
Nem a sombra dos cyprestes,
Escuta, Lyrio do Norte,
Os meus canticos agrestes:……………………………………
……………………………………
……………………………………
……………………………………Tu ignoras os desgostos
D’um cora莽茫o torturado,
Mais tristes do que os soes postos,
Ou de que um bobo espancado!Eu bem sei, 贸 Musa louca
Que n茫o conheces a magoa…
E tens um riso na boca
Como um cravo aberto n’agua…Eu bem sei… bem sei que ris
Dos meus madrigaes modernos.
Sem cuidar, 贸 flor de liz!
Que h茫o de chegar-te os invernos!Que nos corre a Mocidade,
Qual folha verde do val,
E ha de vir-te a tempestade,
脫 branco lyrio real!Que has de ser como a a莽ucena
Varrida pelo nordeste…
E os prantos da minha pena
Que h茫o de regar teu cypreste!Que ha de a terra agreste e dura
Servir-te de ultimo leito…
E a pedra da sepultura
Quebrar teu corpo perfeito!E has de, emfim, ser devorada
Na fria noute,
Poemas sobre Duros de Ant贸nio Gomes Leal
4 resultadosLisboa
De certo, capital alguma n’este mundo
Tem mais alegre sol e o ceu mais cavo e fundo,
Mais collinas azues, rio d’aguas mais mansas,
Mais tristes prociss玫es, mais pallidas crean莽as,
Mais graves cathedraes – e ruas, onde a esteira
Seja em tardes d’estio a flor de larangeira!A Cidade 茅 formosa e esbelta de manh茫! –
脡 mais alegre ent茫o, mais limpida, mais s茫;
Com certo ar virginal ostenta suas gra莽as,
Ha vida, confus茫o, murmurios pelas pra莽as;
– E, 谩s vezes, em roup茫o, uma violeta bella
Vem regar o craveiro e assoma na janella.A Cidade 茅 beata – e, 谩s lucidas estrellas,
O Vicio 谩 noute sae 谩s ruas e 谩s viellas,
Sorrindo a perseguir burguezes e estrangeiros;
E 谩 triste e dubia luz dos ba莽os candieiros,
– Em bairos sepulchraes, onde se d茫o facadas –
Corre 谩s vezes o sangue e o vinho nas cal莽adas!As mulheres s茫o v茫s; mas altas e morenas,
D’olhos cheios de luz, nervosas e serenas,
Ebrias de devo莽玫es, relendo as suas Horas;
– Outras fortes, crueis, os olhos c么r d’amoras,
O Selvagem
Eu n茫o amo ninguem. Tambem no mundo
Ninguem por mim o peito bater sente,
Ninguem entende meu sofrer profundo,
E rio quando chora a demais gente.Vivo alheio de todos e de tudo,
Mais callado que o esquife, a Morte e as lousas,
Selvagem, solitario, inerte e mudo,
– Passividade estupida das Cousas.Fechei, de ha muito, o livro do Passado
Sinto em mim o despreso do Futuro,
E vivo s贸 commigo, amortalhado
N’um egoismo barbaro e escuro.Rasguei tudo o que li. Vivo nas duras
Regi玫es dos crueis indifferentes,
Meu peito 茅 um covil, onde, 谩s escuras,
Minhas penas calquei, como as serpentes.E n茫o vejo ninguem. Saio s贸mente
Depois de p么r-se o sol, deserta a rua,
Quando ninguem me espreita, nem me sente,
E, em lamentos, os c茫es ladram 脿 lua…
Mysticismo Humano
A alma 茅 como a noute escura, immensa e azul,
Tem o vago, o sinistro, e os canticos do sul,
Como os cantos d’amor serenos das ceifeiras
Que cantam ao luar, 谩 noute pelas eiras…
脕s vezes vem a nevoa 谩 alma satisfeita,
E cae sombria, vaga, e meuda e desfeita…
E como a folha morta em lagos somnolentos
As nossas illus玫es v茫o-se nos desalentos!Tem um poder immenso as Cousas na tristeza!
Homem! conheces tu o que 茅 a natureza?…
– 脡 tudo o que nos cerca – 茅 o azul, o escuro,
脡 o cypreste esguio, a planta, o cedro duro,
A folha, o tronco a flor, os ramos friorentos,
脡 a floresta espessa esguedelhada aos ventos;
N茫o entra o vicio aqui com beijos dissolutos,
Nem as lendas do mal, nem os choros dos lutos!…– E os que viram passar serenos os seus dias…
E curvados se v茫o, 谩s longas ventanias,
Cheio o peito de sol, atravez das florestas,
脕 calma do meio dia… e dormiam as sestas,
Tranquillos sobre a eira, entre as hervas nas leivas…