Poemas sobre Anjos de Olavo Bilac

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Poemas de anjos de Olavo Bilac. Leia este e outros poemas de Olavo Bilac em Poetris.

Sacrilégio

Como a alma pura, que teu corpo encerra,
Podes, tĂŁo bela e sensual, conter?
Pura demais para viver na terra,
Bela demais para no céu viver.

Amo-te assim! – exulta, meu desejo!
É teu grande ideal que te aparece,
Oferecendo loucamente o beijo,
E castamente murmurando a prece!

Amo-te assim, Ă  fronte conservando
A parra e o acanto, sob o alvor do véu,
E para a terra os olhos abaixando,
E levantando os braços para o céu.

Ainda quando, abraçados, nos enleva
O amor em que me abraso e em que te abrasas,
Vejo o teu resplandor arder na treva
E ouço a palpitação das tuas asas.

Em vão sorrindo, plácidos, brilhantes,
Os céus se estendem pelo teu olhar,
E, dentro dele, os serafins errantes
Passam nos raios claros do luar:

Em vĂŁo! – descerras Ăşmidos, e cheios
De promessas, os lábios sensuais,
E, Ă  flor do peito, empinam-se-te os seios,
Ameaçadores como dois punhais.

Como Ă© cheirosa a tua carne ardente!
Toco-a, e sinto-a ofegar, ansiosa e louca.

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Sonho

Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade
Solto para onde estás, e fico de ti perto!
Como, depois do sonho, Ă© triste a realidade!
Como tudo, sem ti, fica depois deserto!

Sonho… Minha alma voa. O ar gorjeia e soluça.
Noite… A amplidĂŁo se estende, iluminada e calma:
De cada estrela de ouro um anjo se debruça,
E abre o olhar espantado, ao ver passar minha alma.

Há por tudo a alegria e o rumor de um noivado.
Em torno a cada ninho anda bailando uma asa.
E, como sobre um leito um alvo cortinado,
Alva, a luz do luar cai sobre a tua casa.

Porém, subitamente, um relâmpago corta
Todo o espaço… O rumor de um salmo se levanta
E, sorrindo, serena, apareces Ă  porta,
Como numa moldura a imagem de uma Santa…

Dormindo

De qual de vĂłs desceu para o exĂ­lio do mundo
A alma desta mulher, astros do céu profundo?
Dorme talvez agora… AlvĂ­ssimas, serenas,
Cruzam-se numa prece as suas mĂŁos pequenas.
Para a respiração suavíssima lhe ouvir,
A noite se debruça… E, a oscilar e a fulgir,
Brande o gládio de luz, que a escuridão recorta,
Um arcanjo, de pé, guardando a sua porta.
Versos! podeis voar em torno desse leito,
E pairar sobre o alvor virginal de seu peito,
Aves, tontas de luz, sobre um fresco pomar…
Dorme… Rimas febris, podeis febris voar…
Como ela, num livor de névoas misteriosas,
Dorme o céu, campo azul semeado de rosas;
E dois anjos do céu, alvos e pequeninos,
VĂŞm dormir nos dois cĂ©us dos seus olhos divinos…
Dorme… Estrelas, velai, inundando-a de luz!
Caravana, que Deus pelo espaço conduz!
Todo o vosso dano nesta pequena alcova
Sobre ela, como um nimbo esplĂŞndido, se mova:
E, a sorrir e a sonhar, sua leve cabeça
Como a da Virgem Mie repouse e resplandeça!