Poemas sobre Canções de José Régio

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Poemas de canções de José Régio. Leia este e outros poemas de José Régio em Poetris.

Fado PortuguĂŞs

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chĂŁo , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vĂŞ se vĂŞs terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

MĂŁe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo Ă  sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
Ă  proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

O Amor e a Morte

Canção cruel

Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus mĂşsculos!

Olhos de ĂŞxtase,
Eu sonhei que em vĂłs bebia
Melancolia
De há séculos!

Boca sĂ´frega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
Pétala a pétala!

Seios rĂ­gidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
VĂłmitos!

Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!

Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pĂłrticos!

PĂ©s de sĂ­lfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!

Corpo de ânsia,
Flor de volĂşpia sem lei!
NĂŁo te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.