Poemas sobre Flores de SaĂșl Dias

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Poemas de flores de SaĂșl Dias. Leia este e outros poemas de SaĂșl Dias em Poetris.

Amei-te

Amei-te
porque o teu olhar numa tarde se encheu de lĂĄgrimas,
e falaste em morrer, e tremeste de medo.

Contudo
nĂŁo eras mais que uma flor corruta,
dessas que a vida enleia e usa
e depois atira para uma sarjeta lamacenta.

Mas, para mim, eras toda inocĂȘncia, toda pureza branca.
Porque a inocĂȘncia Ă© um dom de Deus,
o dom sĂł concedido
Ă queles que mais ama.
Por isso, os homens sĂł aparentemente sujam
as pequeninas rosas.

Ah! tivesse eu forças para seguir-te,
embora de longe, mas atentamente,
ajudando-te a subir o agreste calvĂĄrio!

Para Todo o Sempre

O Poeta morre,
mas nĂŁo cessa de escrever.

Enquanto escreve,
vive
ressuscitando fugidias horas
mudadas em auroras…

Uma pequenina flor,
pisada por quem passa,
Ă© agora
um milagre de cor,
uma negaça
de mil desejos…

E os beijos
que nunca foram dados,
tornados tĂŁo reais…

Aquela borboleta
arrasta
infindas primaveras
no seu voo fremente…

– Uma palavra mais,
Poeta!
Uma palavra quente!
Uma palavra para todo o sempre!

O SilĂȘncio

Peço apenas o teu silĂȘncio,
como uma criança pede uma flor
ou um velho pedinte um bocado de pĂŁo.
Um silĂȘncio
onde a tua alma se embrulha, friorenta,
trémula, à aproximação das invernias.
Um silĂȘncio com ressonĂąncias de antigas primaveras,
de outonos descoloridos
e da chuva a cair no negrume da noite.

– VĂĄ, motorista de tĂĄxi,
transporta-me
através das ruas da cidade inextricåvel,
vertiginosamente,
buzinando, buzinando,
abafando o ruĂ­do de um outro silĂȘncio!

Ali

Ali sofreste. Ali amaste.
Ali Ă© a pedra do teu lar.
Ali Ă© o teu, bem teu lugar.
Ali a praça onde jogaste
o que o destino te quis dar.

Ali ficou tua pegada
impressa, firme, sobre o chĂŁo.
NinguĂ©m a vĂȘ sob o montĂŁo
de cinza fria e poeirada?
Distingue-a, sim, teu coração.

Podem talvez o vento, a neve,
roubar a flor que tu criaste?
Ali sofreste. Ali amaste.
Ali sentiste a vida breve.
Ali sorriste. Ali choraste.