Poemas sobre Infinito de José Régio

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Poemas de infinito de José Régio. Leia este e outros poemas de José Régio em Poetris.

Poema do SilĂȘncio

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angĂșstia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvĂŁo, a sangue, a giz,
SĂĄtiras e epigramas nas paredes
Que nĂŁo vi serem necessĂĄrias e vĂłs vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
– Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razĂŁo das Ă©pi trĂĄgi-cĂłmicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo…

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. Ăąnsias de Altura e Abismo,
Tinham raĂ­zes banalĂ­ssimas de egoĂ­smo.

Que sĂł por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tĂŁo humano!

Senhor meu Deus em que nĂŁo creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

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Natal

Mais uma vez, cĂĄ vimos
Festejar o teu novo nascimento,
NĂłs, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!

Cada vez o teu Reino Ă© menos deste mundo!
Mas vimos, com as mĂŁos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, — do fundo
Da miséria que somos.

Os que Ă  chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos — não uma vez, mas cada —
Teus assassinos.

À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo Ă© que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.

Sob escĂĄrnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infane.

Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.

Os que em leilĂŁo a arrematamos
Como sagrada peça Ășnica,
Somos os que jogamos,
Para comĂ©rcio, a tua tĂșnica.

Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,

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