Passagens sobre TĂșnica

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Frases sobre tĂșnica, poemas sobre tĂșnica e outras passagens sobre tĂșnica para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

O Amor

I

Eu nunca naveguei, pieguĂ­ssimo argonauta
Dans les fleuves du tendre, onde hĂĄ naufrĂĄgios bons,
Conduzindo Florian na tolda a tocar frauta,
E cupidinhos d’oiro a tasquinhar bombons.
Nunca ninguém me viu de capa à trovador,
Às horas em que está já Menelau deitado,
A tanger o arrabil sob os balcÔes em flor
Dos castelos feudais de papelĂŁo doirado.
NĂŁo canto de Anfitrite as vaporosas fraldas,
(Eu nĂŁo quero com isto, Ăł VĂ©nus, descompor-te)
Nem costumo almoçar c’roado de grinaldas,
Nem nunca pastoreei enfim, vestido Ă  corte,
De bordão de cristal e punhos de Alençon,
Borreguinhos de neve a tosar esmeraldas
Num lameiro qualquer de qualquer Trianon.
Eu não bebo ambrósia em taças cristalinas,
Bebo um vinho qualquer do Douro ou de Bucelas,
Nem vou interrogar as folhas das boninas,
Para saber o amor, o tal amor das Elas.
NĂŁo visto da poesia a tĂșnica inconsĂștil,
Pela simples razĂŁo, sob o pretexto fĂștil
De ter visto passar na rua uns pés bonitos;
Nem do meu coração eu fiz um paliteiro,
Onde venha o amor cravar os seus palitos.

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XVIII

Dormes… Mas que sussurro a umedecida
Terra desperta? Que rumor enleva
As estrelas, que no alto a Noite leva
Presas, luzindo, Ă  tĂșnica estendida?

SĂŁo meus versos! Palpita a minha vida
Neles, falenas que a saudade eleva
De meu seio, e que vĂŁo, rompendo a treva,
Encher teus sonhos, pomba adormecida!

Dormes, com os seios nus, no travesseiro
Solto o cabelo negro… e ei-los, correndo,
Doudejantes, sutis, teu corpo inteiro

Beijam-te a boca tépida e macia,
Sobem, descem, teu hĂĄlito sorvendo
Por que surge tĂŁo cedo a luz do dia?!

Plena Nudez

Eu amo os gregos tipos de escultura:
PagĂŁs nuas no mĂĄrmore entalhadas;
Não essas produçÔes que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliĂȘncias destacadas…

NĂŁo quero, a VĂȘnus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevĂȘ-la
De transparente tĂșnica atravĂ©s:

Quero vĂȘ-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus… toda nua, da cabeça aos pĂ©s!

Os Deuses Reclinados

… Por todos os lados as estĂĄtuas de Buda, de Lorde Buda… As severas, verticais, carcomidas estĂĄtuas, com um dourado de resplendor animal, com uma dissolução como se o ar as desgastasse… Crescem-lhes nas faces, nas pregas das tĂșnicas, nos cotovelos, nos umbigos, na boca e no sorriso pequenas mĂĄculas: fungos, porosidades, vestĂ­gios excrementĂ­cios da selva… Ou entĂŁo as jacentes, as imensas jacentes, as estĂĄtuas de quarenta metros de pedra, de granito areento, pĂĄlidas, estendidas entre as sussurrantes frondes, inesperadas, surgindo de qualquer canto da selva, de qualquer plataforma circundante… Adormecidas ou nĂŁo adormecidas, estĂŁo ali hĂĄ cem anos, mil anos, mil vezes mil anos… Mas sĂŁo suaves, com uma conhecida ambiguidade ultraterrena, aspirando a ficar e a ir-se embora… E aquele sorriso de suavĂ­ssima pedra, aquela majestade imponderĂĄvel, mas feita de pedra dura, perpĂ©tua, para quem sorriem, para quem, sobre a terra sangrenta?… Passaram as camponesas que fugiam, os homens do incĂȘndio, os guerreiros mascarados, os falsos sacerdotes, os turistas devoradores…

E manteve-se no seu lugar a estĂĄtua, a imensa pedra com joelhos, com pregas na tĂșnica de pedra, com o olhar perdido e nĂŁo obstante existente, inteiramente inumana e de alguma forma tambĂ©m humana, de alguma forma ou de alguma contradição estatuĂĄria,

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Depois Da Orgia

O prazer que na orgia a hetaĂ­ra goza
Produz no meu sensorium de bacante
O efeito de uma tĂșnica brilhante
Cobrindo ampla apostema escrofulosa!

Troveja! E anelo ter, sĂŽfrega e ansiosa,
O sistema nervoso de um gigante
Para sofrer na minha carne estuante
A dor da força cósmica furiosa.

Apraz-me, enfim, despindo a Ășltima alfaia
Que ao comércio dos homens me traz presa,
Livre deste cadeado de peçonha,

Semelhante a um cachorro de atalaia
Às decomposiçÔes da Natureza,
Ficar latindo minha dor medonha!

Natal

Mais uma vez, cĂĄ vimos
Festejar o teu novo nascimento,
NĂłs, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!

Cada vez o teu Reino Ă© menos deste mundo!
Mas vimos, com as mĂŁos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, — do fundo
Da miséria que somos.

Os que Ă  chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos — não uma vez, mas cada —
Teus assassinos.

À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo Ă© que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.

Sob escĂĄrnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infane.

Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.

Os que em leilĂŁo a arrematamos
Como sagrada peça Ășnica,
Somos os que jogamos,
Para comĂ©rcio, a tua tĂșnica.

Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,

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Auréola Equatorial

A Teodoreto Souto

Fundi em bronze a estrofe augusta dos prodĂ­gios,
Poetas do Equador, artĂ­sticos Barnaves;
Que o facho — Abolição — rasgando as nuvens graves
De raios e bulcĂ”es — triunfa nos litĂ­gios!

— O rei Mamoud, o Sol, vibrou p’raquelas bandas
do Norte — a grande luz — elĂ©trico, explodindo,
Assim como quem vai, intrépido, subindo
À luz da idade nova — em claras propagandas.

— Os pĂĄssaros titĂŁs nos seus conciliĂĄbulos,
— Chilreiam, vĂŁo cantando em mĂ­sticos vocĂĄbulos,
Alargam-se os pulmÔes nevrålgicos das zonas;

Abri alas, abri! — Que em tĂșnica de assombros,
IrĂĄ passar por vĂłs, com a Liberdade aos ombros,
Como um colosso enorme o impĂĄvido Amazonas!

A Teodoro de Banville

De tal modo agarraste a Deusa pela crina,
Com ar dominador, num gesto sacudido
Que se alguém presencia o caso acontecido
Poderia julgar-te um rufiĂŁo de esquina.

Com o límpido olhar, — precoce e ardente vista,
Audaz, vais expandido o orgulho de arquitecto
Em nobres produçÔes, de traço tão correcto,
Que deixam futurar um prodigioso artista.

O nosso sangue, Poeta, esvai-se dia a dia!…
Acaso, do Centauro, a tĂșnica sombria,
— Que, fĂșnebres caudais as velas transformava —

TrĂȘs vezes se tingiu com as barbas subtis
D’aqueles infernais, monstruosos, rĂ©pteis,
Que Hércules, em crença, a rir, estrangulava?

Tradução de Delfim Guimarães

Assuntos Mortais e Assuntos Imortais

Com um pouco mais de deliberação na escolha dos seus objectivos, possivelmente todos os homens se tornariam em essĂȘncia estudiosos e observadores, porque a natureza e o destino de cada um interessam sem dĂșvida de igual maneira a todos. Ao acumular bens para nĂłs ou para os nossos descendentes, ao fundar uma famĂ­lia ou um estado, ou ainda ao alcançar a fama, somos mortais; mas ao lidarmos com a verdade somos imortais e nĂŁo precisamos de temer mudanças ou acidentes.
O mais antigo filĂłsofo egĂ­pcio ou hindu levantou uma ponta do vĂ©u que cobria a estĂĄtua da divindade; essa trĂ©mula tĂșnica ainda permanece levantada, e eu contemplo uma glĂłria tĂŁo fresca como a que contemplou o filĂłsofo, jĂĄ que era eu nele quem se mostrou tĂŁo audacioso naquela Ă©poca, e Ă© ele em mim quem agora volta a observar a visĂŁo. Nenhuma poeira se depositou sobre essa tĂșnica; tempo nenhum decorreu desde que tal divindade se viu revelada. O tempo que aproveitamos realmente, ou que Ă© aproveitĂĄvel, nĂŁo Ă© passado, nem presente, nem futuro.

Soneto De Agosto

Tu me levaste eu fui… Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estĂĄvamos unidos
NĂłs que andĂĄvamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

SĂł assim arrancara a linha inĂștil
Da tua eterna tĂșnica inconsĂștil…
E para a glĂłria do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, Ă  luz da lĂąmpada macia
O pĂșbis negro sobre o corpo branco.

O Que Liga os Homens na Vida

O que mais estreitamente liga os homens na vida não são forças puras e generosas. Se assim fosse, não se teria queimado nem ofendido tanta gente superior que andou no mundo. O óptimo moral e intelectual da humanidade é um compromisso entre o bom e o mau, entre o limpo e o sujo, entre a Quaresma e o Carnaval. Por isso, quem traz uma chama limpa a alumiå-lo, e teima em segui-la, não pode ser entendido nem tolerado por aqueles que ou não precisam de luz, como as toupeiras, ou se remedeiam com um simples morrão de candeia.
É certo que os calendĂĄrios civis e religiosos apenas perpetuam herĂłis e santos. Mas, olhando bem, vĂȘ-se que Ă© sempre a mesma histĂłria. Queima-se ou crucifica-se primeiro o herĂłi ou o santo, joga-se aos dados a sua tĂșnica, e, quando dele nĂŁo resta nem a sombra das cinzas, aparece um centuriĂŁo qualquer a dizer: «Verdadeiramente este homem era filho de Deus».