Poemas sobre Pena de Ricardo Reis

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Poemas de pena de Ricardo Reis. Leia este e outros poemas de Ricardo Reis em Poetris.

São Plácidas Todas as Horas que Nós Perdemos

Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nĂłs perdemos,
Se no perdĂŞ-las,
Qual numa jarra,
NĂłs pomos flores.

Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
NĂŁo a viver,

Mas decorrĂŞ-la,
Tranquilos, plácidos,
Lendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza…

Ă€ beira-rio,
Ă€ beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.

O tempo passa,
NĂŁo nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.

NĂŁo vale a pena
Fazer um gesto.
NĂŁo se resiste
Ao deus atroz
Que os prĂłprios filhos
Devora sempre.

Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mĂŁos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

GirassĂłis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
TranqĂĽilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.

Vem Sentar-te Comigo, LĂ­dia, Ă  Beira do Rio

Vem sentar-te comigo, LĂ­dia, Ă  beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mĂŁos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nĂŁo fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mĂŁos, porque nĂŁo vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nĂŁo gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dĂŁo movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente nĂŁo cremos em nada,

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Uma ApĂłs Uma as Ondas Apressadas

Uma ApĂłs Uma
Uma apĂłs uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
E chiam a alva ‘spuma
No moreno das praias.

Uma apĂłs uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o ‘spaço
Do ar entre as nuvens ‘scassas.

Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De se esvair o tempo.

SĂł uma vaga pena inconsequente
Pára um momento à porta da minha alma
E apĂłs fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada.

Cura de Ser quem És

Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que nĂŁo te amem. Sentem-te
Quem Ă©s, e Ă©s estrangeiro.
Cura de ser quem Ă©s, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.