Poemas sobre PolĂ­cia de Carlos Drummond de Andrade

2 resultados
Poemas de polĂ­cia de Carlos Drummond de Andrade. Leia este e outros poemas de Carlos Drummond de Andrade em Poetris.

O Procurador do Amor

Amor, a quanto me obrigas.
De dorso curvo e olhar aceso,
troto as avenidas neutras
atrás da sombra que me inculcas.

Esta sombra que se confunde
com as mulheres gordas e magras,
entra numa porta, sai por outra
como nos filmes americanos,
e reaparece olhando as vitrinas.

Meu olhar desnuda as passantes.
Ă€s vezes um bico de seio
vale mais que o melhor Baedeker.
Mas onde seio para minha sede?

O andar, a curva de um joelho,
vinco de seda no quadril
(nĂŁo sabia quanto eras pura),
faço a polícia dos dessous.

Eu sei que o ĂŞxtase supremo,
o looping no céu espiritual
pode enredar-se, malicioso,
no que as mulheres mais (?) escondem
no que meus olhos mais indagam.

O dia se emenda com a noite
As mulheres vĂŁo para a rua
mas a mulher que tu me destinas
talvez ainda esteja em Peiping.

Desiludido ainda me iludo.
Namoro a plumagem do galo
no ouro pérfido do coquetel.
Enquanto as mulheres cocoricam
os homens engolem veneno.

Continue lendo…

Certas Palavras

Certas palavras nĂŁo podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto sĂŁo palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, actos
do viver que sĂł os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.

E tudo Ă© proibido. EntĂŁo, falamos.