Poemas sobre Precipícios de Mário Cesariny

2 resultados
Poemas de precipícios de Mário Cesariny. Leia este e outros poemas de Mário Cesariny em Poetris.

Pastelaria

Afinal o que importa nĂŁo Ă© a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa nĂŁo Ă© bem o negĂłcio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de Ăłcio

Afinal o que importa nĂŁo Ă© ser novo e galante
– ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa Ă© nĂŁo ter medo: fechar os olhos frente ao precipĂ­cio
e cair verticalmente no vĂ­cio

Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa nĂŁo Ă© haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa Ă© nĂŁo ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa Ă© pĂ´r ao alto a gola do peludo
Ă  saĂ­da da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos Ă  mostra

you are welcome to elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nĂłs o mais Ăştil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
Ă  espera do seu tempo e do seu precipĂ­cio

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nĂłs e as palavras, surdamente,
as mĂŁos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegĂ­veis Ă  boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossĂ­veis de escrever
por nĂŁo termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
sĂł espasmo sĂł amor sĂł solidĂŁo desfeita

Entre nĂłs e as palavras,

Continue lendo…