Poemas sobre Roubo

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Poemas de roubo escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Porque o Melhor, Enfim

Porque o melhor, enfim,
É nĂŁo ouvir nem ver…
Passarem sobre mim
E nada me doer!

_ Sorrindo interiormente,
Co’as pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas. _

Rixas, tumultos, lutas,
NĂŁo me fazerem dano…
Alheio Ă s vĂŁs labutas,
Às estações do ano.

Passar o estio, o outono,
A poda, a cava, e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.

Melhor até se o acaso
O leito me reserva
No prado extenso e raso
Apenas sob a erva

Que Abril copioso ensope…
E, esvelto, a intervalos
Fustigue-me o galope
De bandos de cavalos.

Ou no serrano mato,
A brigas tĂŁo propĂ­cio,
Onde o viver ingrato
Dispõe ao sacrifício

Das vidas, mortes duras
Ruam pelas quebradas,
Com choques de armaduras
E tinidos de espadas…

Ou sob o piso, até,
Infame e vil da rua,
Onde a torva ralé
Irrompe, tumultua,

Se estorce, vocifera,
Selvagem nos conflitos,
Com Ă­mpetos de fera
Nos olhos,

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O Sentimento dum Ocidental

I

Avé-Maria

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulĂ­cio, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monĂłtona e londrina.

Batem carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetĂŁo ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, entĂŁo, as crĂłnicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu nĂŁo verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!

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A Escola Portuguesa

Eis as crianças vermelhas
Na sua hedionda prisĂŁo:
Doirado enxame de abelhas!
O mestre-escola Ă© o zangĂŁo.

Em duros bancos de pinho
Senta-se a turba sonora
Dos corpos feitos de arminho,
Das almas feitas d’aurora.

Soletram versos e prosas
HorrĂ­veis; contudo, ao lĂŞ-las
Daquelas bocas de rosas
Saem murmĂşrios de estrela.

Contemplam de quando em quando,
E com inveja, Senhor!
As andorinhas passando
Do azul no livre esplendor.

Oh, que existĂŞncia doirada
Lá cima, no azul, na glória,
Sem cartilhas, sem tabuada,
Sem mestre e sem palmatĂłria!

E como os dias sĂŁo longos
Nestas prisões sepulcrais!
Abrem a boca os ditongos,
E as cifras tristes dĂŁo ais!

Desgraçadas toutinegras,
Que insuportáveis martírios!
JoĂŁo FĂ©lix co’as unhas negras,
Mostrando as vogais aos lĂ­rios!

Como querem que despontem
Os frutos na escola aldeĂŁ,
Se o nome do mestre é — Ontem
E o do discĂ­p’lo — AmanhĂŁ!

Como é que há-de na campina
Surgir o trigal maduro,
Se Ă© o Passado quem ensina
O b a ba ao Futuro!

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A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem Ă© ditosa, porque o nĂŁo merece.
Nem minha amada, porque Ă© sĂł madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glĂłrias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos sĂŁo
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu prĂł ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de herĂłis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcĂŁo de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
Ă  luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;

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As Balas

Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais o azeite nos Ă© dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas dĂŁo o sangue derramado

Dá a chuva o Inverno criador
As sementes da sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas dĂŁo o sangue derramado

Dá a Primavera o campo colorido
GlĂłria e coroa do mundo renovado
Aos corações dá amor renascido
As balas dĂŁo o sangue derramado

Dá o Sol as searas pelo Verão
O fermento ao trigo amassado
No esbraseado forno dá o pão
As balas dĂŁo o sangue derramado

Dá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe Ă© negado
Dá a conquista um puro sentimento
As balas dĂŁo o sangue derramado

Do meditar, concluir, ir e fazer
Dá sobre o mundo o homem atirado
Ă€ paz de um mundo novo de viver
As balas dĂŁo o sangue derramado

Dá a certeza o querer e o concluir
O que tanto nos nega o Ăłdio armado
Que a vida construir Ă© destruir
Balas que o sangue derramado

Que as balas sĂł dĂŁo sangue derramado
SĂł roubo e fome e sangue derramado
SĂł ruĂ­na e peste e sangue derramado
SĂł crime e morte e sangue derramado.

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Saudação aos que Vão Ficar

Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarĂŁo com saudade
deste antigo paĂ­s,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
RespeitarĂŁo os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avĂ´ e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarĂŁo entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem, cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
– ante o lugar que vence –
de voar para lugar distante
na casa que nĂŁo lhe pertence?
Haverá mais lágrimas
ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juĂ­zo?
E o que será loucura? E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará então a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá,

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