Peço a Paz
Peço a paz
e o silĂȘncioA paz dos frutos
e a mĂșsica
de suas sementes
abertas ao ventoPeço a paz
e meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pãoPeço a paz
silenciosamente
a paz a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morteA paz peço
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mĂŁos
uma lĂngua sensĂvel ao sabor do vinho
a paz clara
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e solPeço a paz e o
silĂȘncio
Poemas sobre Semente de Casimiro de Brito
3 resultadosPoeta como Tu, IrmĂŁo
NĂŁo sou mais poeta do que tu, irmĂŁo!
Tu cavas na terra a semente da vida,
eu cavo na vida a semente da libertação.Somos partes perdidas dum só
que a razĂŁo de ser das coisas
separou. NĂŁo sou mais poeta do que tu, irmĂŁo.
A mĂŁe que te gerou a mim me gerou â
nĂŁo foi ela quem nos trocou
as mãos, a voz do coração.Abandona um pouco a charrua, arranca
da terra os olhos cansados, e limpa
o sujo da cara ao sujo das mĂŁos â onde
os calos sĂŁo um sĂł e as rugas da morte
caminhos cobertos de pĂł.E olha
na direcção do meu braço cansado, sem
mĂșsculos quadrados
nem merda nas unhas, mas que te aponta
o mundo onde as raĂzes do dia, a luta, o trabalho
reclamam suor
mas nĂŁo te roubam o pĂŁo.
Arranca os olhos da terra, irmĂŁo!
Tal a Vida
Em declive trepamos pela nuvem
dos dias â em declive circundamos
obscuros cristais
transportados no sangueâ e somos e
levantamos
as cores primitivas da fonte a luz
que resvala corpo a corpo
a semente sazonada de quem roubou
o fogo â em declive canto
a ternura diluĂda a luz reflectida
neste muro onde vejo
a secreção da fala onde ouço
um caminho de metĂĄforas: tal
a vida â