Poemas sobre Semente de Casimiro de Brito

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Poemas de semente de Casimiro de Brito. Leia este e outros poemas de Casimiro de Brito em Poetris.

Peço a Paz

Peço a paz
e o silĂȘncio

A paz dos frutos
e a mĂșsica
de suas sementes
abertas ao vento

Peço a paz
e meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pĂŁo

Peço a paz
silenciosamente
a paz a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morte

A paz peço
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mĂŁos
uma lĂ­ngua sensĂ­vel ao sabor do vinho
a paz clara
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol

Peço a paz e o
silĂȘncio

Poeta como Tu, IrmĂŁo

NĂŁo sou mais poeta do que tu, irmĂŁo!
Tu cavas na terra a semente da vida,
eu cavo na vida a semente da libertação.

Somos partes perdidas dum sĂł
que a razĂŁo de ser das coisas
separou. NĂŁo sou mais poeta do que tu, irmĂŁo.
A mãe que te gerou a mim me gerou —
nĂŁo foi ela quem nos trocou
as mãos, a voz do coração.

Abandona um pouco a charrua, arranca
da terra os olhos cansados, e limpa
o sujo da cara ao sujo das mãos — onde
os calos sĂŁo um sĂł e as rugas da morte
caminhos cobertos de pĂł.

E olha
na direcção do meu braço cansado, sem
mĂșsculos quadrados
nem merda nas unhas, mas que te aponta
o mundo onde as raĂ­zes do dia, a luta, o trabalho
reclamam suor
mas nĂŁo te roubam o pĂŁo.
Arranca os olhos da terra, irmĂŁo!

Tal a Vida

Em declive trepamos pela nuvem
dos dias — em declive circundamos
obscuros cristais
transportados no sangue— e somos e
levantamos
as cores primitivas da fonte a luz
que resvala corpo a corpo
a semente sazonada de quem roubou
o fogo — em declive canto
a ternura diluĂ­da a luz reflectida
neste muro onde vejo
a secreção da fala onde ouço
um caminho de metĂĄforas: tal
a vida —