Poemas sobre Cores de Casimiro de Brito

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Da ViolĂȘncia

A violĂȘncia que trazemos no sangue
ninguém a sabe e todos (casas
desmoronadas) a exaltam e todos
a descombinamos
gota a gota
em nossos movimentos de cinza
transitĂłria — esta violĂȘncia
residual
tem do corpo a secura a configuração
cavada no sono na fogueira sem cor
de cidades levantadas sobre a doença sobre
a simulação
de fogo suspenso
no arame dos ossos —

O Amigo

1.

Um amigo, o primeiro amigo
dentro da nuvem de um sonho.

O impossĂ­vel toca-nos as mĂŁos
subitamente — o fogo, a flor concĂȘntrica
de planetas no exĂ­lio.

Na terra do silĂȘncio
os frutos caem
de sua prĂłpria vontade.

2.

Ao coração das coisas,
ao jugo das cores da memĂłria,
ao pequeno desvio da sombra no deserto,
ao amor que nos alimenta de morte, Ă  morte
que morre connosco
opomos a infinita
constelação
dos nossos sentidos.

Tal a Vida

Em declive trepamos pela nuvem
dos dias — em declive circundamos
obscuros cristais
transportados no sangue— e somos e
levantamos
as cores primitivas da fonte a luz
que resvala corpo a corpo
a semente sazonada de quem roubou
o fogo — em declive canto
a ternura diluĂ­da a luz reflectida
neste muro onde vejo
a secreção da fala onde ouço
um caminho de metĂĄforas: tal
a vida —