Jeito de Escrever

NĂŁo sei que diga.
E a quem o dizer?
NĂŁo sei que pense.
Nada jamais soube.

Nem de mim, nem dos outros.
Nem do tempo, do cĂ©u e da terra, das coisas…
Seja do que for ou do que fosse.
NĂŁo sei que diga, nĂŁo sei que pense.

Oiço os ralos queixosos, arrastados.
Ralos serĂŁo?
Horas da noite.
Noite começada ou adiantada, noite.
Como Ă© bonito escrever!

Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto – o jeito.
Ao acaso, sem Ăąncora, vago no tempo.
No tempo vago…
Ele vago e eu sem amparo.
Piam påssaros, trespassam o luto do espaço, este sereno luto das horas. Mortas!
E por mais nĂŁo ter que relatar me cerro.
ExpressĂŁo antiga, epistolar: me cerro.
TĂŁo grato Ă© o velho, inopinado e novo.
Me cerro!

Assim: uma das mĂŁos no papel, dedos fincados,
solta a outra, de pena expectante.
Uma que agarra, a outra que espera…

Ó ilusão!
E tudo acabou, acaba.
Para quĂȘ a busca das coisas novas, Ă  toa e Ă  roda?

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