Poemas sobre Vagas de Domingos Carvalho da Silva

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Poemas de vagas de Domingos Carvalho da Silva. Leia este e outros poemas de Domingos Carvalho da Silva em Poetris.

Elegia MarĂ­tima

Nasceu da terra. Seu corpo,
feito do limo das grutas,
surgiu cavalgando um rio
por uma estrada de luas.

Através de ondas agrestes
de um oceano vegetal,
de onde acenavam aos olhos
ilhotas de manacĂĄs,

alcançou o colo das praias
que a mĂŁo lasciva do mar
aperta, despe e mergulha
em seu aroma de sal.

Ali viveu junto Ă s vagas
essa esquiva amendoeira,
cabelos soltos Ă  brisa,
pés escondidos na areia.

Um dia o mar a arrastou
através de ilhas sem fim.
Parti com ela. E hoje canta
a morte dentro de mim.

Poema Explicativo

InĂșteis sĂŁo os voos. InĂșteis sĂŁo os pĂĄssaros.
Silenciosas sombras tudo extinguem.
Como as vagas de um mar longĂ­nquo e frio,
sĂŁo de inĂșteis palavras estes versos,
pois o calado tempo esmaga tudo.

Moro num rio inĂștil que caminha
entre margens de musgo e subalternas
pontes e ĂĄguas que reflectem
estrelas, luminĂĄrias, desencanto.

Os peixes nĂŁo obstante jĂĄ nĂŁo dormem.
SĂŁo inĂșteis os sonhos e as amarras
que nos prendem ao cais.
E o sangue que nos leva
em artérias eléctricas de desejo.

JĂĄ somos todos poetas — e a poesia Ă© inĂștil —
antepassados simples de um futuro
remoto onde seremos sinais na rocha, apenas.

GerminarĂĄ o trevo entre os alexandrinos
e nenhum pĂĄssaro compreenderĂĄ o sentido
das pĂĄginas dispersas sobre a areia.

Estas palavras nuas se transformarĂŁo
em pó, em lodo, em traças e raízes.