Poemas sobre Vozes de Sophia de Mello Breyner Andresen

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Poemas de vozes de Sophia de Mello Breyner Andresen. Leia este e outros poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen em Poetris.

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta – por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos cĂ­rculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitĂĄrias,
As minhas mĂŁos estĂŁo cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

Um dia

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tĂŁo cansados floriremos
IrmĂŁos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levarå os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E hĂĄ-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.

SĂł entĂŁo poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nĂłs germinarĂĄ a sua fala.

ExĂ­lio

Quando a pĂĄtria que temos nĂŁo a temos
Perdida por silĂȘncio e por renĂșncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia Ă© como grades

Revolução

Como casa limpa
Como chĂŁo varrido
Como porta aberta

Como puro inĂ­cio
Como tempo novo
Sem mancha nem vĂ­cio

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como pĂĄgina em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação