Hora
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta – por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos cĂrculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitĂĄrias,
As minhas mĂŁos estĂŁo cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.E de novo caminho para o mar.
Poemas sobre Vozes de Sophia de Mello Breyner Andresen
4 resultadosUm dia
Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tĂŁo cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.O vento levarå os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E hĂĄ-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.SĂł entĂŁo poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nĂłs germinarĂĄ a sua fala.
ExĂlio
Quando a pĂĄtria que temos nĂŁo a temos
Perdida por silĂȘncio e por renĂșncia
AtĂ© a voz do mar se torna exĂlio
E a luz que nos rodeia Ă© como grades
Revolução
Como casa limpa
Como chĂŁo varrido
Como porta abertaComo puro inĂcio
Como tempo novo
Sem mancha nem vĂcioComo a voz do mar
Interior de um povoComo pĂĄgina em branco
Onde o poema emergeComo arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação