Passagens sobre SilĂȘncio

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Por Que Falar De Amor ?

“Por Que Falar De Amor ?”
III
Se era preciso ser assim ferido
para ter-te em meus braços e em meu leito,
e sofrer tudo o que jĂĄ foi sofrido
e aceitar tudo o que jĂĄ estĂĄ desfeito…

Se era preciso, para ser querido,
ver também, rudemente contrafeito
o coração de ciĂșmes corrompido
em silĂȘncio, a chorar, dentro do peito!

Se era preciso destruir-me tanto
nesses desejos em que se consomem
os restos de um orgulho que foi canto,

por que falar de amor? Foste lograda:
tu não tens aos teus pés o amor de um homem,
tens um fauno de rastros… e mais nada!

Tanta pressa temos de fazer, escrever e deixar ouvir a nossa voz no silĂȘncio da eternidade, que esquecemos a Ășnica coisa realmente importante: viver.

Tarde Demais…

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mĂĄgico luar;
E pra o som de teus passos conhecer
PĂŽs-se o silĂȘncio, em volta, a escutar…

Chegaste enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que nĂŁo pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar;
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia d’oiro dos desertos
Procura-te em vão! Braços abertos,
PĂ©s nus, olhos a rir, a boca em flor!

E hĂĄ cem anos que eu fui nova e linda!…
E a minha boca morta grita ainda:
“Por que chegaste tarde, Ó meu Amor?!…”

Noite Escura

Noite escura do amor, em que me deito
com teu corpo de luz, eu assombrado
deste fantasma de repente alado
amplificando a jaula do meu peito.

Deixando-o infinito, maculado
de sangue e espuma (Ă© mar este fantasma?
ou pĂĄssaro de mar que em onda espalma
seu corpo que é de luz e céu desfeito).

E a noite escura que era o amor se ajunta
em feixes de silĂȘncio e de desmaio
para a festa defunta

de ver ressurreiçÔes: tempo em que caio
para em sombras cantar mais docemente
este sol que me pÔe preso e demente.

Regressar Ă  InocĂȘncia

Seja como as crianças, mantenha os olhos abertos, sem preconceitos escondidos atrĂĄs da vista. Se olhar com clareza, pequenas flores, ou pedaços de relva, ou borboletas, ou um pĂŽr do Sol proporcionar-lhe-ĂŁo tanta felicidade quanto a que Gautama Buda encontrou na sua iluminação. Isto nĂŁo depende das coisas, mas sim da sua abertura. O conhecimento fecha-o; transforma-se numa cerca, numa prisĂŁo. Mas a inocĂȘncia abre todas as portas e todas as janelas.
O sol entra e uma brisa fresca flui.
De repente, o perfume das flores faz-lhe uma visita.
E de vez em quando um påssaro virå cantar uma canção e entrar por outra janela.
A inocĂȘncia Ă© a Ășnica religiosidade que existe.
A religiosidade nĂŁo depende das escrituras sagradas nem do que se sabe sobre o mundo. SĂł depende de se estar preparado para ser como um espelho lĂ­mpido, que nada reflecte.
Um total silĂȘncio, inocĂȘncia, pureza… e toda a existĂȘncia Ă© transformada para si. Cada momento passa a ser de ĂȘxtase. As pequenas coisas, como beber uma chĂĄvena de chĂĄ, tornam-se oraçÔes tĂŁo poderosas que nenhuma outra oração se lhes pode comparar. Basta observar uma nuvem a mover-se livremente no cĂ©u, e da inocĂȘncia surge uma sincronicidade.

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O vocabulĂĄrio do amor Ă© restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressĂŁo Ă© o silĂȘncio. Mas Ă© deste silĂȘncio que nasce todo o vocabulĂĄrio do mundo.

XĂĄcara do Infinito

Fazia papa-luaça
com lama azul dos paĂșis;
e embaciava a vidraça;
ou de olhos baços, azuis,
parados, largos, serenos,
como o silĂȘncio dos mudos,
ou fitos, picos, pequenos,
venenos de Ăąngulos agudos.

Ou gargalhava estridente
como um riscar de repente
de uma faĂșlha de luz
em escuros de urros e uuus
que arrefecia os cabelos!
E a dissonĂąncia em novelos
rolava fundo e medonho
a meio do chĂŁo:.. Catrapuz!…
como um vĂłmito de luz
a estoirar dentro dum sonho!

Ou escancarava a vidraça
a rir pedradas de lata;
mas logo o feixe-desfeixe
porque a lata se desata
e cai em pata de pata
na lĂĄjea das cousas mortas
das mortas noites sem portas!

E logo a Noite corria,
e a vista via… – nĂŁo via:
porque entre o ver e o nĂŁo ver
hĂĄ uma distĂąncia a correr
que pode ser… – ou nĂŁo ser
uma distĂąncia a valer!

Aquele espaço intervalo
dum cabelo ou duma unha
à sensação de ter unha
Ă© uma distĂąncia a cavalo
como a distĂąncia da unha
ao movimento da unha!

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Estar SĂł Ă© Estar no Íntimo do Mundo

Por vezes   cada objecto   se ilumina
do que no passar Ă© pausa Ă­ntima
entre sons minuciosos que inclinam
a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tĂŁo breve e tĂŁo profundo
como no silĂȘncio de uma planta
Ă© estar no fundo do tempo ou no seu ĂĄpice
ou na alvura de um sono que nos dĂĄ
a cintilante substĂąncia do sĂ­tio
O mundo inteiro assim cabe num limbo
e Ă© como um eco lĂ­mpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minĂșsculas luzes
E Ă© astro imediato de um lĂșcido sono
fluvial e um nĂșbil eclipse
em que estar sĂł Ă© estar no Ă­ntimo do mundo

Lugares com Ecos do Passado

Tanto ou mais que as pessoas, os lugares vivem e morrem. Com uma diferença: mesmo se jĂĄ mortos, os lugares retĂȘm a vida que os animou. No silĂȘncio, sentimos-lhes os ouvidos vigilantes ou o rumor infatigĂĄvel dos ecos ensurdecidos.

Muitas coisas nĂŁo merecem ser ditas e muitas pessoas nĂŁo merecem que as outras coisas lhe sejam ditas: o resultado Ă© muito silĂȘncio.

A Leitura Ă© a Maior das Amizades

A amizade, a amizade que diz respeito aos indivĂ­duos, Ă© sem dĂșvida uma coisa frĂ­vola, e a leitura Ă© uma amizade. Mas pelo menos Ă© uma amizade sincera, e o facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe algo de desinteressado, de quase tocante. E alĂ©m disso uma amizade liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como nĂŁo passamos todos, nĂłs os vivos, de mortos que ainda nĂŁo entraram em funçÔes, todas essas delicadezas, todos esses cumprimentos no vestĂ­bulo a que chamamos deferĂȘncia, gratidĂŁo, dedicação e a que misturamos tantas mentiras, sĂŁo estĂ©reis e cansativas. AlĂ©m disso, — desde as primeiras relaçÔes de simpatia, de admiração, de reconhecimento, as primeiras palavras que escrevemos, tecem Ă  nossa volta os primeiros fios de uma teia de hĂĄbitos, de uma verdadeira maneira de ser, da qual jĂĄ nĂŁo conseguimos desembaraçar-nos nas amizades seguintes; sem contar que durante esse tempo as palavras excessivas que pronunciĂĄmos ficam como letras de cĂąmbio que temos que pagar, ou que pagaremos mais caro ainda toda a nossa vida com os remorsos de as termos deixado protestar. Na leitura, a amizade Ă© subitamente reduzida Ă  sua primeira pureza.
Com os livros,

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Ele habita em profundo silĂȘncio, contemplando, sereno, o louco vai-e-vem, porquanto tudo o que existe Ă© um incessante vir e voltar, um nascer e um morrer.

A Um Livro

No silĂȘncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mĂĄgoas que me deste.

Estranho livro que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!

Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste Ă© meu, e salma
As oraçÔes que choro e rio e canto!…

Poeta igual a mim, ai quem me dera
Dizer o que tu dizes!… Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto!…

Escreve!

NĂŁo sei o que supor
Do teu silĂȘncio. Escreve!
Quem Ă© amado deve
Ser grato ao menos, flor!

Se eu fosse tĂŁo feliz
Que te falasse um dia,
De viva voz diria
Mais do que a carta diz.

Mas olha, tal qual Ă©,
NĂŁo rias desse escrito,
Que pouco ou muito Ă© dito
Tudo de boa-fé.

HĂĄ nesse teu olhar
A doce luz da Lua,
Mas luz que se insinua
A ponto de abrasar…

Pareça nele, sim,
Que hå só doçura, embora,
HĂĄ fogo que devora…
Que me devora a mim!

Que mata, mas que dĂĄ
Uma suave morte;
Mata da mesma sorte
Que uma ĂĄrvore que hĂĄ;

Que ao pé se lhe ficou
Acaso alguém dormindo
Adormeceu sorrindo…
Porém não acordou!

Esse teu seio entĂŁo…
Que encantadora curva!
Como de o ver se turva
A vista e a razĂŁo!

Como até mesmo o ar
Suspende a gente logo,
Pregando olhos de fogo
Em tĂŁo formoso par!

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O OfĂ­cio

Escrevo para sentir nas veias
o voo da pedra.

Antecipação da paz
neste paĂ­s de granadas
moldadas
no silĂȘncio dos frutos.

Escrevo como quem escava
no bojo da sombra
um mar de claridade.

Pedras vivas de possibilidade
as palavras levantam
o crime, os pĂĄssaros do pĂąntano

Escrevo
no grande espaço obscuro
que somos e nos inunda.

Timidez

Eu sei que Ă© sempre assim, – longe dela imagino
mil versos que nĂŁo fiz mas que ainda hei de compor,
perto dela, – meu Deus!… lembro mais um menino
que esquecesse a lição diante do professor…

Penso, que a minha voz terĂĄ sons de violino
enchendo os seus ouvidos de cançÔes de amor,
– e hei de deixĂĄ-la tonta ao vinho doce e fino
dos meus beijos, no instante em que minha ela for…

Ao seu lado, no entanto, encabulado, emudeço,
e se os seus lĂĄbios frios, trĂȘmulos, se calam,
eu, de tudo, das cousas, de mim mesmo, esqueço…

E ficamos assim, ela em silĂȘncio… eu, mudo…
Mas meus olhos, nem sei… ah! Quantas cousas falam!
e seus olhos, seus olhos!… dizem tudo, tudo!

Por um Rosto Chego ao Teu Rosto

Por um rosto chego ao teu rosto,
noutro corpo sei o teu corpo.
Num autocarro, num café me pergunto
porque nĂŁo falam o que vai
no seu silĂȘncio aqueles cujo olhar
me fala da solidĂŁo.
Esqueço-me de mim. Tão quieto
pensando na sua pouca coragem, a minha
sempre adiada. Por um rosto
chegaria o teu rosto, mesmo de um convite
ousado fugiria, esta mĂŁo conhece-te
e desenha no ar o hĂĄbito
por que andou antes de saĂ­res
do espaço à sua volta. Estås longe,
sĂł assim podes pedir algumas horas
aos meus dias. Sem fixar a voz
a tua voz Ă© uma corda, a minha
um fio a partir-se.