Eu fiz isso, diz minha memória. Eu não posso ter feito isso, diz meu orgulho, e permanece inflexível. Por fim _ a memória cede.
Passagens de Friedrich Nietzsche
871 resultadosTodo o Grande Homem é Céptico
Todo o grande homem é, necessariamente, céptico, ainda que possa não o mostrar: pelo menos se a grandeza dele consistir em querer uma coisa grande e grandes meios para realizá-la. A liberdade em relação a todas as convicções faz parte da sua vontade: o que está em conformidade com o “despotismo esclarecido” que todas as grandes paixões exercem. Uma paixão dessa espécie põe o intelecto ao seu serviço e tem a coragem de fazer uso até de certos meios proibidos – dos quais se serve, mas aos quais não se submete.
A necessidade de crer, a necessidade de um sim e de um não absolutos é sinal de fraqueza, e toda a fraqueza é uma fraqueza da vontade. O homem de fé, o crente é, necessariamente, de uma espécie inferior; disso resulta a liberdade de espírito, ou seja, a descrença instintiva: uma condição de grandeza.
Um homem de génio é insuportável se, além disso, não possuir pelo menos duas outras qualidades: gratidão e asseio.
Erro (- a crença no ideal -) não é cegueira, erro é covardia…
A piedade não assenta em máximas, mas em emoções: ela é patológica. A dor dos outros contamina-nos. A piedade é contagiosa.
É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.
O homem é definido como um ser que evolui, como o animal é imaturo por excelência.
Quantos Séculos Precisa um Espírito para Ser Compreendido?
Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos – mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos – são os que mais tarde se compreendem: as gerações que lhes são contemporâneas não vivem esses acontecimentos, – passam por eles. Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que ali – existam estrelas. “Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?” – aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e para a estrela.
Devemos afastar-nos de tudo o que nos obriga a repetir «Não» mais do que uma vez.
E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
Quem não estiver familiarizado com o sublime, sente o sublime como inquietante e falso.
O que é bom? Tudo que eleve no homem o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência.
Quando o reconhecimento de um grande número por um único repele qualquer espécie de pudor, é o nascimento da glória.
Mesmo nos tempos de mais grave doença, nunca me tornei doentio.
O sentido do trágico aumenta e diminui com a sensualidade.
O Prazer no Costume
Uma importante variedade do prazer e, com isso, fonte da moralidade, provém do hábito. O usual faz-se mais facilmente, melhor, portanto, com mais agrado, sente-se nisso um prazer e sabe-se, por experiência, que o habitual deu bom resultado, daí é útil; um costume, com o qual se pode viver, está provado que é salutar, proveitoso, ao contrário de todas as tentativas novas, ainda não comprovadas. O costume é, por conseguinte, a união do agradável e do útil; além disso, não exige reflexão. Assim que o homem pode exercer coacção, exerce-a para impor e introduzir os seus costumes, pois para ele, eles são a comprovada sabedoria prática. De igual modo, uma comunidade de indivíduos obriga cada um deles ao mesmo costume.
Aqui está a conclusão errada: porque uma pessoa se sente bem com um costume ou, pelo menos, porque por intermédio do mesmo assegura a sua existência, então esse costume é necessário, pois passa por ser a única possibilidade de uma pessoa se conseguir sentir bem; o agrado da vida parece emanar exclusivamente dele. Esta concepção do habitual como uma condição da existência é aplicada até aos mais pequenos pormenores do costume: dado que o conhecimento da verdadeira causalidade é muito escasso entre os povos e as civilizações que se encontram a um nível baixo,
Os sentimentos dos que te são mais próximos constituem a crítica ao conhecimento que tu tens de ti mesmo, tanto em nobreza como em baixeza.
Tudo aquilo que é da minha espécie, na natureza e na história, fala-me, louva-me, encoraja-me, consola-me: o resto não o entendo, ou esqueço-o imediatamente. Nunca estamos senão em nossa própria companhia.
Eu só acreditaria num Deus que soubesse dançar.
A recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais.