O pranto convoca os espíritos da desgraça.
Passagens de Mia Couto
388 resultadosOrgulhoso, respondeu aos apressados: esperar não é a mesma coisa que ficar à espera.
Em cada mulher a gente lembra outra, a que nem há.
Quem parte treme, quem regressa teme. Tem-se medo de se ter sido vencido pelo Tempo, medo de que a ausência tenha devorado as lembranças. A saudade é um morcego cego que falhou fruto e mordeu a noite.
Sim, que a verdadeira bondade não se mede em tempo de fartura mas quando a fome dança no corpo dos homens.
O escritor não é apenas aquele que escreve. É aquele que produz pensamento, aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimento e de encantamento.
Salvar é uma grande palavra. E amor é uma palavra ainda maior. Grandes palavras escondem grandes enganos.
Amei-te sem Saberes
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertosE amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventarNo contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvoradaPara me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio
A velhice não nos dá nenhuma sabedoria, simplesmente autoriza outras loucuras.
Não há conhecer sem lembrar. Mas o conhecer é um engano. E o lembrar é uma mentira.
Quem pede sempre, não sabe querer.
O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso.
A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Falar é fácil. Custa é aprender a calar.
A transgressão poética é o único modo de escaparmos à ditadura da realidade. Sabendo que a realidade é uma espécie de recinto prisional fechado com a chave da razão e a porta do bom-senso.
Há coisas que são resolvidas por governos. Há coisas que nenhum governo é capaz de resolver. Seremos nós, com o tempo que nos for concedido, que resolveremos. Por via da nossa cidadania em construção.
Não aspire ser centro de nada. A importância aqui é muito mortal. Veja, por exemplo, essas avezitas que pousam no dorso dos hipopótamos. Sua grandeza é o seu tamanho mínimo. É essa a nossa arte, nossa maneira de nos fazermos maiores: catando nas costas dos poderosos.
Nós lemos emoções nos rostos, lemos os sinais climáticos nas nuvens, lemos o chão, lemos o Mundo, lemos a Vida. Tudo pode ser página. Depende apenas da intenção de descoberta do nosso olhar.
Diz a mãe: a vida faz-se como uma corda. É preciso trançá-la até não distinguirmos os fios dos dedos.
A guerra é uma cobra que usa os nossos próprios dentes para nos morder.