Sonetos sobre Asas de Anibal Beça

3 resultados
Sonetos de asas de Anibal Beça. Leia este e outros sonetos de Anibal Beça em Poetris.

Joropo Para Timples E Harpa

Em duas asas prontas para o vôo
assim se foi em par a minha vida
e com rilhar de dentes me perdôo
trilhando as horas nuas na medida

Bilros tecendo rendas amarelas
bordando em vão um tempo já remoto
no sol dos girassóis da cidadela
canto um recanto que me faz devoto

A dor que existe em mim raiz que medra
no rastro mais sombrio as minhas luas
talvez não fora Sísifo ou a pedra

que encontro todo dia pelas ruas
ao revirar as heras nessa redra
trilhando na medida as horas nuas

Ciclo Terreno

Só morta a natureza se comporta
na expectativa podre dessas frutas
amolecidas no chão que as conforta
para o vôo de moscas dissolutas.

Esse tempo ruído rói a crosta
de rugas ventiladas na disputa
de asas amaciando a pele morta
deixando à mostra o feto do desfruto.

O cheiro cavo amaro pousa às costas
do vento que carrega no azedume
sementes de tanino em seu curtume.

São muitos comensais nesse repasto
velando o transitório na certeza
sabendo que outra fruta volta à mesa.

Cantares Bacantes IV

São Mateus bebo teu verbo
conjugado na tintura,
semi-breve partitura
na regência d’um Efebo.

Ocarina chora uvas
esmagadas no sermão,
e esconde no coração
gotas vermelhas de chuvas.

Um pombo pousa na taça
evangelho vivo de asas:
traz ao bico, verde salsa.

A boa nova rascante
que me entra pela boca
doce beijo da amante.