Sonetos sobre C茅u de Ant贸nio Nobre

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Menino e Mo莽o

Tombou da haste a flor da minha infancia alada,
Murchou na jarra de oiro o pudico jasmim:
Voou aos altos c茅us Sta Aguia, linda fada,
Que d’antes estendia as azas sobre mim.

Julguei que fosse eterna a luz d’essa alvorada,
E que era sempre dia, e nunca tinha fim
Essa viz茫o de luar que vivia encantada,
N’um castello de prata embutido a marfim!

Mas, hoje, as aguias de oiro, aguias da minha infancia,
Que me enchiam de lua o cora莽茫o, outrora,
Partiram e no c茅u evolam-se, a distancia!

Debalde clamo e choro, erguendo aos c茅us meus ais:
Voltam na aza do vento os ais que a alma chora;
Ellas, por茅m, Senhor! ellas n茫o voltam mais…

O Sr. Abbade

Quando vem Junho e deixo esta cidade,
Batina, Caes, tuberculozos c茅us,
Vou para o Seixo, para a minha herdade:
Adeus, cavaco e luar! choupos, adeus!

Tomo o regimen do Sr. Abbade,
E fa莽o as pazes, elle o quer, com Deus.
No seu direito olhar vejo a bondade,
E 谩s capellinhas vou ver os judeus.

Que homem sem par! Ignora o que s茫o dores!
Para elle uma ramada 茅 o pallio verde,
Os cachos d’uvas s茫o as suas flores!

Ao seu passal chama elle o mundo todo…
Sr. Abbade! olhe que nada perde:
Viva na paz, ahi, longe do lodo.

Enterro de Ophelia

Morreu, Vae a dormir, vae a sonhar… Deixal-a!
(Fallae baixinho: agora mesmo se ficou…)
Como padres orando, os choupos formam ala,
Nas margens do ribeiro onde ella se afogou…

Toda de branco vae, n’esse habito de opala,
Para um convento: n茫o o que o Hamlet lhe indicou,
Mas para um outro, horror! que tem por nome Valla,
D’onde jamais saiu quem, l谩, uma vez entrou!…

O lindo Por-do-Sol, que era doido por ella,
Que a perseguia sempre, em palacio e na rua,
Vede-o, coitado! mal pode suster a vela…

Como damas de honor, nymphas seguem-lhe os rastros,
E, assomando no c茅u, sua Madrinha, a Lua,
Por ella vae desfiando as suas contas, Astros!

脌 Luz da Lua!

Iamos s贸s pela floresta amiga,
Onde em perfumes o luar se evola,
Olhando os c茅us, modesta rapariga!
Como as crian莽as ao sair da escola.

Em teus olhos dormentes de fadiga,
Meio cerrados como o olhar da rola,
Eu ia lendo essa ballada antiga
D’uns noivos mortos ao cingir da estola…

A Lua-a-Branca, que 茅 tua avozinha,
Cobria com os seus os teus cabellos
E dava-te um aspeto de velhinha!

Que linda eras, o luar que o diga!
E eu compondo estes versos, tu a lel-os,
E ambos scismando na floresta amiga…

Desobriga

Os meus peccados, Anjo! os meus peccados!
Contar-t’os? Para que, se n茫o t锚m fim…
Sou santo ao p茅 dos outros desgra莽ados,
Mas tu 茅s mais que santa ao p茅 de mim!

A ti accendo cyrios perfumados,
Fa莽o novenas, queimo-te alecrim,
Quando soffro, me vejo com cuidados…
Nas tuas rezas, lembra-te de mim!

Que eu seja puro d’alma e pensamento!
E que, em dia do grande julgamento,
Minhas culpas n茫o sejam de maior:

Pois tenho, que o c茅u tudo aponta e marca,
Um processo a correr n’essa comarca,
Cujo delegado 茅 Nosso Senhor…