Musa ImpassĂ­vel I

Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cĂąndido semblante!
Diante de um JĂł, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos nĂŁo quero a lĂĄgrima; nĂŁo quero
Em tua boca o suave e idĂ­lico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

DĂĄ-me o hemistĂ­quio d’ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bĂĄrbaros ruĂ­dos,
Ora o ĂĄspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mĂĄrmores partidos.