Passagens de Castro Alves

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Mestre, Mestre Querido, Pai De Amor

Mestre, Mestre querido, Pai de Amor,
As glĂłrias que conquistas co’a razĂŁo,
Enchendo de prazer teu coração
T’atraem grandes bençãos do Senhor!

Os teus louros tĂŞm mais vivo fulgor,
Que os ganhos ao ribombo do canhĂŁo;
Que os de um AnĂ­bal, d’um NapoleĂŁo,
Alcançados das mortes entre o horror.

Sim! Que os louros terrĂ­veis que Mavorte
Ao soldado concede em dura guerra,
Todos murcha a idéia só da morte!

Mas nos teus vero mérito se encerra,
Que não cede do tempo ao braço forte,
E alcançam justo prĂŞmio alĂ©m da terra!…

5A E 6A Sombras – Cândida E Laura

Como no tanque de um palácio mago,
Dous alvos cisnes na bacia lisa,
Como nas águas que o barqueiro frisa,
Dous nenĂşfares sobre o azul do lago,

Como nas hastes em balouço vago
Dous lĂ­rios roxos que acalenta a brisa,
Como um casal de juritis que pisa
O mesmo ramo no amoroso afago….

Quais dous planetas na cerĂşlea esfera,
Como os primeiros pâmpanos das vinhas,
Como os renovos nos ramais da hera,

Eu vos vejo passar nas noites minhas,
Crianças que trazeis-me a primavera…
Crianças que lembrais-me as andorinhas! …

Povo! Povo infeliz! Povo mártir eterno,
Tu Ă©s do cativeiro o Prometeu moderno…

Era o relampejar da liberdade
Nas nuvens do chorar da humanidade,
Ou sarça do Sinai,
Relâmpagos que ferem de desmaios
Revoluções, vós deles sois os raios
Escravos, esperai!

Tudo vem me lembrar que tu fugiste, Tudo que me rodeia de ti fala. Inda a almofada, em que pousaste a fronte O teu perfume predileto exala…

Senhor, nĂŁo deixes que se manche a tela,
Onde traçaste a criação mais bela
De tua inspiração.
O sol de tua glĂłria foi toldado
Teu poema da América manchado.
Manchou-o a escravidĂŁo.

A praça, a praça é do Povo!
Como o céu é do Condor!
É antro onde a liberdade
Cria a águia ao seu calor!

Mancebos! De Mil Louros Triunfantes

Mancebos! De mil louros triunfantes
Adornai o Moisés da mocidade,
O Anjo que nos guia da verdade
Pelos doces caminhos sempre ovantes.

Coroai de grinaldas verdejantes
Quem rompeu para a Pátria nova idade,
Guiando pelas leis sĂŁs da amizade
Os moços do progresso sempre amantes.

VĂŞ, Brasil, este filho que o teu nome
Sobre o mapa dos povos ilustrados
Descreve qual o forte de VendĂ´me.

Conhece que os Andradas e os Machados,
Que inda vivem nas asas do renome
Não morrem nestes céus abençoados;

Oh! bendito o que semeia
Livros, livros, Ă  mancheia
E manda o povo pensar…

A palavra, vĂłs roubais-la
Dos lábios da multidão.
Dizeis, senhores, Ă  lava:
Que nĂŁo rompa do vulcĂŁo!

Basta! … Eu sei que a mocidade
É o Moisés no Sinai;
Das mĂŁos do eterno recebe
As tábuas da lei! Marchai!
Quem cai na luta com glĂłria.
Tomba nos braços da história,
No Coração do Brasil.

Prendi meus afetos, formosa Pepita… mas, onde? No tempo? No espaço? Nas nĂ©voas? NĂŁo rias… Prendi-me num laço de fita!

2A Sombra – Bárbara

Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes níveos em lábios tão vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;

Um dorso de ValquĂ­ria… alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tĂŁo vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;

Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e mĂşsicas respira…
No lábio – um beijo… no beijar – um hino;

Harpa eĂłlia a esperar que o vento a fira,
– Um pedaço de mármore divino…
– É o retrato de Bárbara – a Hetaira.

O livro – esse audaz guerreiro
que conquista o mundo inteiro
sem nunca ter Waterloo…