Passagens de Castro Alves

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Povo! Povo infeliz! Povo mártir eterno,
Tu és do cativeiro o Prometeu moderno…

Era o relampejar da liberdade
Nas nuvens do chorar da humanidade,
Ou sarça do Sinai,
Relâmpagos que ferem de desmaios
Revoluções, vós deles sois os raios
Escravos, esperai!

Tudo vem me lembrar que tu fugiste, Tudo que me rodeia de ti fala. Inda a almofada, em que pousaste a fronte O teu perfume predileto exala…

Senhor, não deixes que se manche a tela,
Onde traçaste a criação mais bela
De tua inspiração.
O sol de tua glória foi toldado
Teu poema da América manchado.
Manchou-o a escravidão.

A praça, a praça é do Povo!
Como o céu é do Condor!
É antro onde a liberdade
Cria a águia ao seu calor!

Mancebos! De Mil Louros Triunfantes

Mancebos! De mil louros triunfantes
Adornai o Moisés da mocidade,
O Anjo que nos guia da verdade
Pelos doces caminhos sempre ovantes.

Coroai de grinaldas verdejantes
Quem rompeu para a Pátria nova idade,
Guiando pelas leis sãs da amizade
Os moços do progresso sempre amantes.

Vê, Brasil, este filho que o teu nome
Sobre o mapa dos povos ilustrados
Descreve qual o forte de Vendôme.

Conhece que os Andradas e os Machados,
Que inda vivem nas asas do renome
Não morrem nestes céus abençoados;

Oh! bendito o que semeia
Livros, livros, à mancheia
E manda o povo pensar…

A palavra, vós roubais-la
Dos lábios da multidão.
Dizeis, senhores, à lava:
Que não rompa do vulcão!

Basta! … Eu sei que a mocidade
É o Moisés no Sinai;
Das mãos do eterno recebe
As tábuas da lei! Marchai!
Quem cai na luta com glória.
Tomba nos braços da história,
No Coração do Brasil.

Prendi meus afetos, formosa Pepita… mas, onde? No tempo? No espaço? Nas névoas? Não rias… Prendi-me num laço de fita!

2A Sombra – Bárbara

Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes níveos em lábios tão vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;

Um dorso de Valquíria… alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tão vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;

Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e músicas respira…
No lábio – um beijo… no beijar – um hino;

Harpa eólia a esperar que o vento a fira,
– Um pedaço de mármore divino…
– É o retrato de Bárbara – a Hetaira.

O livro – esse audaz guerreiro
que conquista o mundo inteiro
sem nunca ter Waterloo…

3A Sombra – Ester

Vem! no teu peito cálido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!
Enrola-te na longa cachemira,
Como as judias moles do Levante,

Alva a clâmide aos ventos – roçagante…
Túmido o lábio, onde o saltério gira…
Ó musa de Israel! pega da lira…
Canta os martírios de teu povo errante!

Mas não… brisa da pátria além revoa,
E ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir… e parte… e voa. . .

Qual nas algas marinhas desce um astro…
Linda Ester! teu perfil se esvai… s’escoa…
Só me resta um perfume… um canto… um rastro…

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder,
Hoje… cúmulo de maldade,
Nem são livres pra morrer…