Sonetos de Castro Alves

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Sonetos de Castro Alves. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Mancebos! De Mil Louros Triunfantes

Mancebos! De mil louros triunfantes
Adornai o Moisés da mocidade,
O Anjo que nos guia da verdade
Pelos doces caminhos sempre ovantes.

Coroai de grinaldas verdejantes
Quem rompeu para a PĂĄtria nova idade,
Guiando pelas leis sĂŁs da amizade
Os moços do progresso sempre amantes.

VĂȘ, Brasil, este filho que o teu nome
Sobre o mapa dos povos ilustrados
Descreve qual o forte de VendĂŽme.

Conhece que os Andradas e os Machados,
Que inda vivem nas asas do renome
Não morrem nestes céus abençoados;

2A Sombra – BĂĄrbara

Erguendo o cĂĄlix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes nĂ­veos em lĂĄbios tĂŁo vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;

Um dorso de ValquĂ­ria… alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tĂŁo vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;

Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e mĂșsicas respira…
No lĂĄbio – um beijo… no beijar – um hino;

Harpa eĂłlia a esperar que o vento a fira,
– Um pedaço de mĂĄrmore divino…
– É o retrato de BĂĄrbara – a Hetaira.

3A Sombra – Ester

Vem! no teu peito cĂĄlido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!
Enrola-te na longa cachemira,
Como as judias moles do Levante,

Alva a clĂąmide aos ventos – roçagante…
TĂșmido o lĂĄbio, onde o saltĂ©rio gira…
Ó musa de Israel! pega da lira…
Canta os martĂ­rios de teu povo errante!

Mas nĂŁo… brisa da pĂĄtria alĂ©m revoa,
E ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir… e parte… e voa. . .

Qual nas algas marinhas desce um astro…
Linda Ester! teu perfil se esvai… s’escoa…
SĂł me resta um perfume… um canto… um rastro…

Aqui, Onde O Talento Verdadeiro

Aqui, onde o talento verdadeiro
NĂŁo nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no pĂșblico respeito
Se conquista o brasĂŁo mais lisonjeiro.

Aqui onde o gĂȘnio sobranceiro
E, de torpes calĂșnias, ao efeito,
JesuĂ­na, dos zoilos a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!

Repara como o povo te festeja…
VĂȘ como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mĂŁo, que, oculta, te apedreja!

Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif’rente ao regougar da inveja,
“Das almas grandes a nobreza Ă© esta.”

4A Sombra – FabĂ­ola

Como teu riso dĂłi… como na treva
Os lĂȘmures respondem no infinito:
Tens o aspecto do pĂĄssaro maldito,
Que em sĂąnie de cadĂĄveres se ceva!

Filha da noite! A ventania leva
Um soluço de amor pungente, aflito…
FabĂ­ola!… É teu nome!… Escuta Ă© um grito,
Que lacerante para os cĂ©us s’eleva!…

E tu folgas, Bacante dos amores,
E a orgia que a mantilha te arregaça,
Enche a noite de horror, de mais horrores…

É sangue, que referve-te na taça!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
E este sangue Ă© meu sangue… Ă© meu… Desgraça!

8A Sombra – Último Fantasma

Quem Ă©s tu, quem Ă©s tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada…
Sobre as nĂ©voas te libras vaporoso …

Baixas do cĂ©u num vĂŽo harmonioso!…
Quem Ă©s tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, Ăł ser misterioso! …

Onde nos vimos nós? És doutra esfera ?
És o ser que eu busquei do sul ao norte. . .
Por quem meu peito em sonhos desespera?

Quem Ă©s tu? Quem Ă©s tu? – És minha sorte!
És talvez o ideal que est’alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!

7A Sombra – Dulce

Se houvesse ainda talismĂŁ bendito
Que desse ao pĂąntano – a corrente pura,
Musgo – ao rochedo, festa – Ă  sepultura,
Das ĂĄguias negras – harmonia ao grito…,

Se alguém pudesse ao infeliz precito
Dar lugar no banquete da ventura…
E tocar-lhe o velar da insĂŽnia escura
No poema dos beijos – infinito…,

Certo. . . serias tu, donzela casta,
Quem me tomasse em meio do CalvĂĄrio
A cruz de angĂșstias que o meu ser arrasta!. . .

Mas ,se tudo recusa-me o fadĂĄrio,
Na hora de expirar, Ăł Dulce, basta
Morrer beijando a cruz de teu rosĂĄrio!…

1A Sombra – Marieta

Como o gĂȘnio da noite, que desata
O véu de , rendas sobre a espådua nua,
Ela solta os cabelos… Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prata

O seio virginal que a mĂŁo recata,
Embalde o prende a mĂŁo… cresce, flu
Sonha a moça ao relento… AlĂ©m na
Preludia um violĂŁo na serenata!…

… Furtivos passos morrem no lajedo…
Resvala a escada do balcĂŁo discreta…
Matam lĂĄbios os beijos em segredo…

Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! oh palor! oh pranto! oh medo!
Ai! noites de Romeu e Julieta…

Mestre, Mestre Querido, Pai De Amor

Mestre, Mestre querido, Pai de Amor,
As glĂłrias que conquistas co’a razĂŁo,
Enchendo de prazer teu coração
T’atraem grandes bençãos do Senhor!

Os teus louros tĂȘm mais vivo fulgor,
Que os ganhos ao ribombo do canhĂŁo;
Que os de um AnĂ­bal, d’um NapoleĂŁo,
Alcançados das mortes entre o horror.

Sim! Que os louros terrĂ­veis que Mavorte
Ao soldado concede em dura guerra,
Todos murcha a idéia só da morte!

Mas nos teus vero mérito se encerra,
Que não cede do tempo ao braço forte,
E alcançam justo prĂȘmio alĂ©m da terra!…

5A E 6A Sombras – CĂąndida E Laura

Como no tanque de um palĂĄcio mago,
Dous alvos cisnes na bacia lisa,
Como nas ĂĄguas que o barqueiro frisa,
Dous nenĂșfares sobre o azul do lago,

Como nas hastes em balouço vago
Dous lĂ­rios roxos que acalenta a brisa,
Como um casal de juritis que pisa
O mesmo ramo no amoroso afago….

Quais dous planetas na cerĂșlea esfera,
Como os primeiros pĂąmpanos das vinhas,
Como os renovos nos ramais da hera,

Eu vos vejo passar nas noites minhas,
Crianças que trazeis-me a primavera…
Crianças que lembrais-me as andorinhas! …