Passagens sobre Marés

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Frases sobre marés, poemas sobre marés e outras passagens sobre marés para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

MĂŁe, Eu Estou tĂŁo Cansado

MĂŁe, eu estou tĂŁo cansado e sinto nos ossos
o chamamento da ĂĄgua, o chamamento sibilino
que se confunde com o ranger das portas das casas
onde jamais voltarei: venha veloz o sono capaz
de me resgatar e que dentro dele se perfilem
as sombras e os gestos, exército dos meus medos
mais secretos, temores enrodilhados na roupa hĂșmida
das camas. MĂŁe, a luz nĂŁo se demora no meu quarto,
morre nas corolas das flores que trouxeste
para o riso nĂŁo murchar, e eu fico doente sĂł de olhar
os muros onde a hera Ă© espiral de espanto, raiz
de uma enfermidade latente. NĂŁo voltarei
Ă s actas do desespero, que sĂŁo sombrias e magras
como os corpos dos amantes que definham sobre a
[areia
na fĂșria da marĂ©, com uma gramĂĄtica de murmĂșrios
escondida na solidĂŁo branca das dunas, mĂŁe.

O Dote que se Oferece no Horror

o dote que se oferece no horror
dessa cidade Ă© mais uma manobra difĂ­cil
das marés viradas em nossos pulsos
tal o esforço da visão da névoa

sonhos e vibraçÔes técnicas estão aí
para tudo que seja atual
em frontes douradas pois ficou vazio
o que Ă© pesado como o antigo absurdo

seu desejo excepcional ainda dentro
do medo com a mudança recente de vultos
interessados na superfĂ­cie do arrependimento

mas chegou ao fim a fĂșria da indecĂȘncia
e as unhas vistas entre os ossos podem matar
elas conhecem o que pode ser morto de novo

Lenta, Descansa a Onda que a Maré Deixa

Lenta, descansa a onda que a maré deixa.
Pesada cede. Tudo Ă© sossegado.
SĂł o que Ă© de homem se ouve.
Cresce a vinda da lua.

Nesta hora, LĂ­dia ou Neera ou Cloe,
Qualquer de vĂłs me Ă© estranha, que me inclino
Para o segredo dito
Pelo silĂȘncio incerto.

Tomo nas mĂŁos, como caveira, ou chave
De supérfluo sepulcro, o meu destino,
E ignaro o aborreço
Sem coração que o sinta.

Posso Te Dar

Posso te dar a carta de marinha
mas o traço que nela insinuasse
um entre tantos rumos
nĂŁo.

Posso te dar as tåbuas de marés
mas a leve emoção de cavalgar
onda e onda apĂłs onda
nĂŁo.

Posso te dar os Ă­ndices das ĂĄguas
conforme as densidades, mas a branda
flutuação do casco
nĂŁo.

Posso te dar a rosa e o timĂŁo
mas o desequilĂ­brio concertante
ao balanço de bordo
nĂŁo.

Posso te dar exemplos de ancoragens
mas o galeio do barco seguro
retesando as amarras
nĂŁo.

Posso te dar o longe no binĂłculo
mas acolĂĄ das lentes a paisagem
convidando Ă  viagem
nĂŁo.

Posso te dar notĂ­cia do mar calmo
mas o rumor das franjas no espelhado
junto Ă  roda de proa
nĂŁo.

Posso te dar o gorro marinheiro
mas a pressĂŁo do linho nos cabelos
enquanto sopra o vento
nĂŁo.

Posso te dar a direcção da chuva
mas o gosto da baga salitrada
escorrendo no rosto
nĂŁo.

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Que esforço eu faço para ser eu mesma. Luto contra uma maré em nau onde só cabem meus dois pés em frågil equilíbrio ameaçado.

Vénus

I

À flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda…
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razĂŁo se perde!

PĂștrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, num balanço alaga,
E reflui (um olfato que se embriaga)
Como em um sorvo, murmura de gozo.

O seu esboço, na marinha turva…
De pé flutua, levemente curva;
Ficam-lhe os pĂ©s atrĂĄs, como voando…

E as ondas lutam, como feras mugem,
A lia em que a desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co’a salsugem.

II

Singra o navio. Sob a ĂĄgua clara
VĂȘ-se o fundo do mar, de areia fina…
_ ImpecĂĄvel figura peregrina,
A distĂąncia sem fim que nos separa!

Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparĂȘncia luminosa
Repousam, fundos, sob a ĂĄgua plana.

E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrågios, perdiçÔes, destroços!
_ Ó fĂșlgida visĂŁo, linda mentira!

RĂłseas unhinhas que a marĂ© partira…
Dentinhos que o vaivĂ©m desengastara…

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Bastava-nos Amar

Bastava-nos amar. E nĂŁo bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E nĂŁo bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
JĂĄ nĂŁo bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.