A Estupidez e a Maldade Humana
Vista à distância, a humanidade é uma coisa muito bonita, com uma larga e suculenta história, muita literatura, muita arte, filosofias e religiões em barda, para todos os apetites, ciência que é um regalo, desenvolvimento que não se sabe aonde vai parar, enfim, o Criador tem todas as razões para estar satisfeito e orgulhoso da imaginação de que a si mesmo se dotou. Qualquer observador imparcial reconheceria que nenhum deus de outra galáxia teria feito melhor. Porém, se a olharmos de perto, a humanidade (tu, ele, nós, vós, eles, eu) é, com perdão da grosseira palavra, uma merda. Sim, estou a pensar nos mortos do Ruanda, de Angola, da Bósnia, do Curdistão, do Sudão, do Brasil, de toda a parte, montanhas de mortos, mortos de fome, mortos de miséria, mortos fuzilados, degolados, queimados, estraçalhados, mortos, mortos, mortos. Quantos milhões de pessoas terão acabado assim neste maldito século que está prestes a acabar? (Digo maldito, e foi nele que nasci e vivo…) Por favor, alguém que me faça estas contas, dêem-me um número que sirva para medir, só aproximadamente, bem o sei, a estupidez e a maldade humana. E, já que estão com a mão na calculadora, não se esqueçam de incluir na contagem um homem de 27 anos,
Passagens de José Saramago
397 resultadosAinda que te possa parecer estranha a comparação, os gestos, para mim, são mais do que gestos, são como desenhos feitos pelo corpo de um no corpo de outro.
Do meu ponto de vista, a globalização económica é a nova forma adoptada pelo totalitarismo. O chamado neoliberalismo é um capitalismo totalitário.
A vida é uma aprendizagem diária. Afasto-me do caos e sigo um simples pensamento: Quanto mais simples, melhor!
Estamos a Construir uma Sociedade de Egoístas
Estamos a construir uma sociedade de egoístas. Se a ti te dizem que o que importa é o que compras, e segundo o que compras têm mais ou menos consideração por ti, então convertes-te num ser que não pensa senão em satisfazer os seus gostos, os seus desejos e nada mais. Não existe em nenhuma faculdade uma disciplina do egoísmo, mas não é preciso, é a própria experiência social que nos vai fazendo assim. Ao longo da História as igrejas e as catedrais eram os lugares onde se procurava um valor espiritual determinado. Agora os valores adquirem-se nos centros comerciais. São as catedrais do nosso tempo.
A propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem.
Corre por aí que sou vaidoso. Mas eu acho que a vaidade é a coisa mais bem distribuída deste mundo. Vaidosos somos todos nós. A questão está em saber se há alguma razão para o ser ou se se é vaidoso sem razão nenhuma.
Química
Sublimemos, amor. Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.
A nossa vida é feita do que nós fazemos por ela, e do que temos que aceitar dos outros.
É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.
Costuma-se dizer que a solidão é enriquecedora, mas isso depende directamente da possibilidade de se deixar de estar sozinho.
Cada homem tem a sua parcela de terra para cultivar. O que é importante é que cave fundo.
Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não.
Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.
Só o amor nos permite conhecermo-nos.
O romance já não tem que continuar a contar histórias, as histórias do nosso tempo as contam o cinema e a televisão. Sendo assim, ao romance e ao romancista não resta mais que regressar às três ou quatro grandes questões humanas, talvez só duas, vida e morte, tentar saber, já nem sequer «donde vimos e para onde vamos», mas simplesmente «quem somos».
Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo
Talvez eu tenha um sentido fatalista da vida. Mesmo quando era novo, eu dizia a mim próprio que aquilo que fosse para mim viria parar-me às mãos. Não tenho de ir à procura, é só estar atento. Se há alguma sabedoria na minha vida, é saber esperar.
Vivemos num sistema de mentiras organizadas, entrelaçadas umas nas outras. E o milagre é que, apesar de tudo, consigamos construir as nossas pequenas verdades, com as quais vivemos, e das quais vivemos.
O que as pessoas não conseguiram, e alguma razão têm, foi vencer o medo de perder o emprego. E o resultado é a neutralização do espírito de militância que durante gerações caracterizou a classe operária.