Passagens de José Saramago

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…assim é que a vida deve ser, quando um desanima, o outro agarra-se às próprias tripas e faz delas coração

Ninguém escreve um diário para dizer quem é. Por outras palavras, um diário é um romance com uma só personagem. Por outras palavras ainda, e finais, a questão central sempre suscitada por este tipo de escritos é, assim creio, a da sinceridade.

O amor não resolve nada. O amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. Mas isto não transcende para o colectivo. Já andamos há dois mil anos a dizer isso de nos amarmos uns aos outros. E serviu de alguma coisa? Poderíamos mudar isso por respeitarmo-nos uns aos outros, para ver se assim tem maior eficácia. Porque o amor não é suficiente.

A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem.

Tal como às vezes digo que, em vez da felicidade, eu acredito na harmonia, penso que o amor é o encontro da harmonia com o outro.

Estamos a destruir o planeta e o egoísmo de cada geração não se preocupa em perguntar como é que vão viver os que virão depois. A única coisa que importa é o triunfo do agora. É a isto que eu chamo a «cegueira da razão».

Nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático. Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo.

A pena pior, minha filha, não é a que se sente no momento, é a que se vai sentir depois, quando já não houver remédio, Diz-se que o tempo tudo cura, Não vivemos bastante para tirar-lhe a prova.

O cristianismo tentou convencer-nos de que devíamos amar-nos uns aos outros. Eu direi uma coisa muito clara: não tenho a obrigação de amar toda a gente, mas sim de a respeitar.

Estamos numa situação em que uma democracia que, segundo a definição antiga, é o governo do povo, para o povo e pelo povo, nessa democracia precisamente está ausente o povo.

A Globalização é uma Nova Forma de Totalistarismo

A globalização económica é compatível com os direitos humanos? Temos de fazer esta pergunta a nós próprios e ver que a resposta é que ou há globalização ou há direitos, por mais que os poderes tenham a hipocrisia de dizer que a globalização favorece os direitos humanos, quando o que faz é fabricar excluídos. A globalização é simplesmente uma nova forma de totalitarismo que não tem de chegar sempre com uma camisa azul, castanha ou negra e com o braço erguido; tem muitas caras e a globalização é uma delas. Devíamos voltar a Marx e a Engels para reverter a situação, ainda que seja pouco menos que politicamente incorrecto referirmo-nos a estes cadáveres da história quando a ideologia parece que morreu.

A Europa é um Comboio Disparado e sem Freios

Foi a falta de solidariedade que fez na Europa 18 milhões de desempregados, ou são eles tão-somente o efeito mais visível da crise de um sistema para o qual as pessoas não passam de produtores a todo o momento dispensáveis e de consumidores obrigados a consumir mais do que necessitam? A Europa, estimulada a viver na irresponsabilidade, é um comboio disparado, sem freios, onde uns passageiros se divertem e os restantes sonham com isso.

Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas

Quando a esquerda chega ao poder, não usa as razões pelas quais chegou. A esquerda deixa de o ser muitas vezes quando chega ao poder e isso é dramático.

Se não disseres nada compreenderei melhor […], há ocasiões em que as palavras não servem de nada.

Continuo a pedir a humanização da humanidade. Isso morreu? Pois se morreu é uma autêntica tragédia.

Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: ‘Isto é um livro sobre o Alentejo’.