Poemas de Ant贸nio Os贸rio

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Poemas de Ant贸nio Os贸rio. Conhe莽a este e outros autores famosos em Poetris.

A Meus Filhos

A meus filhos
desejo a curva do horizonte.

E todavia deles tudo em mim desejo:
o felino gosto de ver,
o brilho chuvoso da pele,
as m茫os que desvendam e amam.

Marga,
meu fermento,
neles caminho e me procuro,
a corpo igual regresso:

ao r谩pido besouro das l谩grimas,
ao calor da boca dos c茫es,
脿 sua l铆ngua de faca afectuosa;

脿 seta que disparam os ibiscos,
脿 partida solene da cama de grades,
ao encontro, na praia, com as algas;

脿 alegria de dormir com um gato,
de ver sair das vacas o leite fumegante,
脿 chegada do amor aos quatro anos.

Amar

Amar n茫o deve ser desfortuna.
O cio transfunde
a lagartixa e o homem
na cria莽茫o tenaz.
E o buxo, o p贸len
e as primeiras folhas
da vinha virgem. Amor
n茫o tem quaresma,
nela impetuoso regressa e copula.

Cada Segundo

N茫o desejo a indig锚ncia,
a serenidade
dos lugares desertados:
desejo que cada segundo
quando amo
explodisse
e fosse a terra
em sua expans茫o
durante a primeira noite,
a gestante,
do mundo.

Os Loucos

H谩 v谩rios tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O sol铆cito, que dirige o tr芒nsito.
O man铆aco fala-s贸.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legat谩rio de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E h谩 sempre um
(o mais intrat谩vel) que n茫o desiste
e escreve versos.

N茫o gosto destes loucos.
(Torturados pela escurid茫o, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.

S铆tio Exacto

Sei que n茫o acaba
o teu prazer,
nem o meu.

Algu茅m
ama connosco
e nos leva
ao s铆tio exacto
das esta莽玫es.

Nem o sono
depois nos pertence,
quinh茫o de outros
herdado ap贸s amarem.

M茫e que Levei 脿 Terra

M茫e que levei 脿 terra
como me trouxeste no ventre,
que farei destas tuas art茅rias?
Que medula, placenta,
que l谩grimas unem aos teus
estes ossos? Em que difere
a minha da tua carne?

M茫e que levei 脿 terra
como me acompanhaste 脿 escola,
o que herdei de ti
al茅m de m贸veis, p贸, detritos
da tua e outras casas extintas?
Porque guardavas
o sopro de teus av贸s?

M茫e que levei 脿 terra
como me trouxeste no ventre,
vejo os teus retratos,
seguro nos teus dezanove anos,
eu n茫o existia, meu Pai j谩 te amava.
Que fizeste do teu sangue,
como foi poss铆vel, onde est谩s?

Um Sentido

Porque h谩 um sentido
no l铆rio, incensar-se;
e no choupo, erguer-se;
e na urze arborescente,
ampliar-se;
e no cobre, primeira cura,
que dou 脿 vinha,
procriar-se.

E outro, pressago,
sentido h谩 na mem贸ria,
explodir-se. E outro, imensur谩vel,
no amor, entregar-se.
E outro, definitivo,
na morte, render-se.

Peso do Mundo

A poesia n茫o 茅, nunca foi
uma enumera莽茫o ou composto
de exuber芒ncia, bondade,
altitude, nem arado
ou d谩diva sobre ch茫o
prenhe de mortos.

Nem o arrependimento
de Deus por ter criado o homem
com o rosto da sua mem贸ria,
ao lado dos seus vermes.

T茫o-pouco f么lego dos que amam
abrindo a porta l铆mpida
do corpo e chovendo sobre a terra,
ou carregam como tartarugas
o peso do mundo.

Nem rever锚ncia por um tigre,
pela leveza maligna de todas as patas,
pela sonol锚ncia junto 脿 estirpe
aprisionada tamb茅m
na dureza de ser tigre.

脡 o milagre de uma arma
total, de uma s贸 palavra
reduzindo o 谩tomo 脿 completa inoc锚ncia.

Igni莽茫o

Meus versos, desejo-vos na rua,
nas padiolas, pelo ch茫o, encardidos
como quem ganha com eles a vida,
e o papel v谩 escurecendo ao sol,
a chuva o manche, a capa
ganhe dedadas, a companhia
aderente de um insecto,
as palavras se humildem mais
e chegue a sua vez de comoverem algu茅m
que compre, um faminto ajudando.

Meus versos, desejo-vos nas bibliotecas
itinerantes, gostar铆eis de viajar
por aldeias, praias, escolas prim谩rias,
despertar o r谩pido olhar das crian莽as,
estar nas suas m茫os
completamente indefeso
e, sobretudo, que n茫o vos compreendam.
Oxal谩 escrevam, risquem, atirem no recreio
umas 脿s outras como p茅las os livros
e sonhem, se poss铆vel, com algum verso
que s煤bito se esgueire pela sua alma.

Nascente

Quando sinto de noite
o teu calor dormente
e devagar
para que n茫o despertes
digo: cedro azul,
terra vegetal,
ou s贸
amor, amor;
quando te acaricio
e devagar
para que n茫o despertes
tomo na m茫o direita
as duas fontes, iguais, da vida,
procuro a nascente
e adorme莽o
nela essa m茫o depositando.

Amo os Teus Defeitos

Amo os teus defeitos, e tantos
eram, as tuas faltas para comigo
e as minhas; essa 锚nfase
de recha莽ar por timidez; solid茫o
de fazer trepadeiras, agasalhos
para velhos, depois para netos;
indulg锚ncia de plantar e ver
o crescimento da oliveira do para铆so,
carregada de flores persistentemente
caducas; essa autoridade, irremedi谩vel
desafio; e a ast煤cia
de termos ambos quase a mesma cara.

As Adolescentes

A pele mosqueada da ma莽茫 reineta,
um ar vago e doce, feliz.
Subitamente correm como rapazes,
s茫o a corda do arco
que se dilata e a seta do corpo
chega aos quinze anos,
quando abrem as ancas
e amam como se fossem m茫es.

Amando

Amando
fazemos juntos
o pres茅pio,
com musgo, pinhas,
ervilhaca.

E ovelhas
procurando
pelos l谩bios
o campo
um do outro.

E p茫o, mel,
courelas
que renascem
da geada,
semoventes.

E o mesmo
h谩lito, calor
de dois animais,
nosso fazemos
aquele Filho.