Poemas sobre Atenção de Ricardo Reis

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Poemas de atenção de Ricardo Reis. Leia este e outros poemas de Ricardo Reis em Poetris.

NĂŁo Quero Mais que o Dado

Do que quero renego, se o querĂȘ-lo
Me pesa na vontade. Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho Ă  chuva, por ter ĂĄgua.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me Ă© dado,
E o que falta nĂŁo quero.

O que me Ă© dado quero
Depois de dado, grato.

Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.

Tirem-me os Deuses o Amor, GlĂłria e Riqueza

Tirem-me os deuses
Em seu arbĂ­trio
Superior e urdido Ă s escondidas
O Amor, glĂłria e riqueza.

Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciĂȘncia lĂșcida e solene
Das coisas e dos seres.

Pouco me importa
Amor ou glĂłria,
A riqueza Ă© um metal, a glĂłria Ă© um eco
E o amor uma sombra.

Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objetos
Tem abrigo seguro.

Seus fundamentos
SĂŁo todo o mundo,
Seu amor Ă© o plĂĄcido Universo,
Sua riqueza a vida.

A sua glĂłria
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objetos.

O resto passa,
E teme a morte.
SĂł nada teme ou sofre a visĂŁo clara
E inĂștil do Universo.

Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.

A Vida Passa como se TemĂȘssemos

Deixemos, LĂ­dia, a ciĂȘncia que nĂŁo pĂ”e
Mais flores do que Flora pelos campos,
Nem dĂĄ de Apolo ao carro
Outro curso que Apolo.

Contemplação estéril e longínqua
Das coisas prĂłximas, deixemos que ela
Olhe até não ver nada
Com seus cansados olhos.

VĂȘ como Ceres Ă© a mesma sempre
E como os louros campos intumesce
E os cala prĂĄs avenas
Dos agrados de PĂŁ.

VĂȘ como com seu jeito sempre antigo
Aprendido no orige azul dos deuses,
As ninfas nĂŁo sossegam
Na sua dança eterna.

E como as heniadrĂ­ades constantes
Murmuram pelos rumos das florestas
E atrasam o deus PĂŁ.
Na atenção à sua flauta.

NĂŁo de outro modo mais divino ou menos
Deve aprazer-nos conduzir a vida,
Quer sob o ouro de Apolo
Ou a prata de Diana.

Quer troe JĂșpiter nos cĂ©us toldados.
Quer apedreje com as suas ondas
Netuno as planas praias
E os erguidos rochedos.

Do mesmo modo a vida Ă© sempre a mesma.
NĂłs nĂŁo vemos as Parcas acabarem-nos.

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