NĂŁo Quero Mais que o Dado
Do que quero renego, se o querĂȘ-lo
Me pesa na vontade. Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho Ă chuva, por ter ĂĄgua.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me Ă© dado,
E o que falta nĂŁo quero.O que me Ă© dado quero
Depois de dado, grato.Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.
Poemas sobre Atenção de Ricardo Reis
3 resultadosTirem-me os Deuses o Amor, GlĂłria e Riqueza
Tirem-me os deuses
Em seu arbĂtrio
Superior e urdido Ă s escondidas
O Amor, glĂłria e riqueza.Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciĂȘncia lĂșcida e solene
Das coisas e dos seres.Pouco me importa
Amor ou glĂłria,
A riqueza Ă© um metal, a glĂłria Ă© um eco
E o amor uma sombra.Mas a concisa
Atenção dada
Ăs formas e Ă s maneiras dos objetos
Tem abrigo seguro.Seus fundamentos
SĂŁo todo o mundo,
Seu amor Ă© o plĂĄcido Universo,
Sua riqueza a vida.A sua glĂłria
Ă a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objetos.O resto passa,
E teme a morte.
SĂł nada teme ou sofre a visĂŁo clara
E inĂștil do Universo.Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.
A Vida Passa como se TemĂȘssemos
Deixemos, LĂdia, a ciĂȘncia que nĂŁo pĂ”e
Mais flores do que Flora pelos campos,
Nem dĂĄ de Apolo ao carro
Outro curso que Apolo.Contemplação estĂ©ril e longĂnqua
Das coisas prĂłximas, deixemos que ela
Olhe até não ver nada
Com seus cansados olhos.VĂȘ como Ceres Ă© a mesma sempre
E como os louros campos intumesce
E os cala prĂĄs avenas
Dos agrados de PĂŁ.VĂȘ como com seu jeito sempre antigo
Aprendido no orige azul dos deuses,
As ninfas nĂŁo sossegam
Na sua dança eterna.E como as heniadrĂades constantes
Murmuram pelos rumos das florestas
E atrasam o deus PĂŁ.
Na atenção à sua flauta.Não de outro modo mais divino ou menos
Deve aprazer-nos conduzir a vida,
Quer sob o ouro de Apolo
Ou a prata de Diana.Quer troe JĂșpiter nos cĂ©us toldados.
Quer apedreje com as suas ondas
Netuno as planas praias
E os erguidos rochedos.Do mesmo modo a vida Ă© sempre a mesma.
NĂłs nĂŁo vemos as Parcas acabarem-nos.