A Vida Grata
Feliz aquele a quem a vida grata
Concedeu que dos deuses se lembrasse
E visse como eles
Estas terrenas coisas onde mora
Um reflexo mortal da imortal vida.
Feliz, que quando a hora tributĂĄria
Transpor seu ĂĄtrio por que a Parca corte
O fio fiado até ao fim,
Gozar poderå o alto prémio
De errar no Averno grato abrigo
Da convivĂȘncia.Mas aquele que quer Cristo antepor
Aos mais antigos Deuses que no Olimpo
Seguiram a Saturno â
O seu blasfemo ser abandonado
Na fria expiação â atĂ© que os Deuses
De quem se esqueceu deles se recordem â
Erra, sombra inquieta, incertamente,
Nem a viĂșva lhe pĂ”e na boca
O Ăłbolo a Caronte grato,
E sobre o seu corpo insepulto
NĂŁo deita terra o viandante.
Poemas sobre Abrigo de Ricardo Reis
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Tirem-me os Deuses o Amor, GlĂłria e Riqueza
Tirem-me os deuses
Em seu arbĂtrio
Superior e urdido Ă s escondidas
O Amor, glĂłria e riqueza.Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciĂȘncia lĂșcida e solene
Das coisas e dos seres.Pouco me importa
Amor ou glĂłria,
A riqueza Ă© um metal, a glĂłria Ă© um eco
E o amor uma sombra.Mas a concisa
Atenção dada
Ăs formas e Ă s maneiras dos objetos
Tem abrigo seguro.Seus fundamentos
SĂŁo todo o mundo,
Seu amor Ă© o plĂĄcido Universo,
Sua riqueza a vida.A sua glĂłria
Ă a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objetos.O resto passa,
E teme a morte.
SĂł nada teme ou sofre a visĂŁo clara
E inĂștil do Universo.Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.