Poemas sobre Seres de Ricardo Reis

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Tirem-me os Deuses o Amor, GlĂłria e Riqueza

Tirem-me os deuses
Em seu arbĂ­trio
Superior e urdido Ă s escondidas
O Amor, glĂłria e riqueza.

Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciĂȘncia lĂșcida e solene
Das coisas e dos seres.

Pouco me importa
Amor ou glĂłria,
A riqueza Ă© um metal, a glĂłria Ă© um eco
E o amor uma sombra.

Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objetos
Tem abrigo seguro.

Seus fundamentos
SĂŁo todo o mundo,
Seu amor Ă© o plĂĄcido Universo,
Sua riqueza a vida.

A sua glĂłria
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objetos.

O resto passa,
E teme a morte.
SĂł nada teme ou sofre a visĂŁo clara
E inĂștil do Universo.

Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.

Abdica e SĂȘ Rei de Ti Mesmo

Frutos, dĂŁo-os as ĂĄrvores que vivem,
NĂŁo a iludida mente, que sĂł se orna
Das flores lĂ­vidas
Do Ă­ntimo abismo.

Quantos reinos nos seres e nas cousas
Te nĂŁo talhaste imaginĂĄrio! Quantos,
Com a charrua,
Sonhos, cidades!

Ah, nĂŁo consegues contra o adverso muito
Criar mais que propĂłsitos frustrados!
Abdica e sĂȘ
Rei de ti mesmo.

Para os Deuses as Coisas SĂŁo Mais Coisas

Para os deuses as coisas sĂŁo mais coisas.
NĂŁo mais longe eles vĂȘem, mas mais claro
Na certa Natureza
E a contornada vida…
NĂŁo no vago que mal vĂȘem
Orla misteriosamente os seres,
Mas nos detalhes claros
EstĂŁo seus olhos.
A Natureza Ă© sĂł uma superfĂ­cie.
Na sua superfĂ­cie ela Ă© profunda
E tudo contém muito
Se os olhos bem olharem.
Aprende, pois, tu, das cristĂŁs angĂșstias,
Ó traidor à multíplice presença
Dos deuses, a nĂŁo teres
VĂ©us nos olhos nem na alma.

Gozo Sonhado Ă© Gozo, ainda que em Sonho

Gozo sonhado Ă© gozo, ainda que em sonho.
NĂłs o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente
Resistirmos em crĂȘ-lo.
NĂŁo, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se. Porém eu me cumpro
Segundo o Ăąmbito breve
Do que de meu me Ă© dado.