CitaçÔes sobre Fados

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Os Vestidos Elisa Revolvia

Os vestidos Elisa revolvia
que lh’Eneias deixara por memĂłria:
doces despojos da passada glĂłria,
doces, quando seu Fado o consentia.

Entr’eles a fermosa espada via
que instrumento foi da triste histĂłria;
e, como quem de si tinha a vitĂłria,
falando sĂł com ela, assi dezia:

-Fermosa e nova espada, se ficaste
sĂł para executares os enganos
de quem te quis deixar, em minha vida,

Sabe que tu comigo t’enganaste;
que, para me tirar de tantos danos,
sobeja me a tristeza da partida.

Enquanto outros Combatem

Empunhasse eu a espada dos valentes!
Impelisse-me a acção, embriagado,
Por esses campos onde a Morte e o Fado
Dão a lei aos reis trémulos e ås gentes!

Respirariam meus pulmÔes contentes
O ar de fogo do circo ensanguentado…
Ou caĂ­ra radioso, amortalhado
Na fulva luz dos glĂĄdios reluzentes!

JĂĄ nĂŁo veria dissipar-se a aurora
De meus inĂșteis anos, sem uma hora
Viver mais que de sonhos e ansiedade!

JĂĄ nĂŁo veria em minhas mĂŁos piedosas
Desfolhar-se, uma a uma, as tristes rosas
D’esta pĂĄlida e estĂ©ril mocidade!

Ai de Mim!

Venho, torna-me velho esta lembrança!
D’um enterro d’anjinho, nobre e puro:
Infancia, era este o nome da criança
Que, hoje, dorme entre os bichos, lĂĄ no escuro…

Trez anjos, a Chymera, o Amor, a Esperança
Acompanharam-n’o ao jazigo obscuro,
E recebeu, segundo a velha usança,
A chave do caixĂŁo o meu Futuro.

Hoje, ambulante e abandonada Ermida,
Leva-me o fado, å bruta, aos empurrÔes,
Vå para a frente! Marcha! Á Vida! Á Vida!

Que hei-de fazer, Senhor! o qu’Ă© que espera
Um bacharel formado em illuzÔes
Pela Universidade da Chymera?

Ó Trevas, que Enlutais a Natureza

Ó trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza;

Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim PlutĂŁo se goza,
NĂŁo aterreis esta alma dolorosa,
Que Ă© mais triste que voz minha tristeza.

Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura.

Volvei, pois, sombras vĂŁs, ao fogo eterno;
E, lamentando a minha desventura,
Movereis Ă  piedade o mesmo Inferno.

O Raio Cristalino S’estendia

O raio cristalino s’estendia
pelo mundo, da Aurora marchetada,
quando Nise, pastora delicada,
donde a vida deixava, se partia.

Dos olhos, com que o Sol escurecia,
levando a vista em lĂĄgrimas banhada,
de si, do Fado e Tempo magoada,
pondo os olhos no Céu, assi dezia:

-Nasce, sereno Sol, puro e luzente;
resplandece, fermosa e roxa Aurora,
qualquer alma alegrando descontente;

que a minha, sabe tu que, desd’agora,
jamais na vida a podes ver contente,
nem tĂŁo triste nenhĂŒa outra pastora.

Morte, JuĂ­zo, Inferno e ParaĂ­so

Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhÔes adoro e beijo.

Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro;
Quando mo juras mais, menos seguro
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.

Assim passo, assim vivo, assim meus fados
Me desarreigam d’alma a paz e o riso,
Sendo sĂł meu sustento os meus cuidados;

E, de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
Morte, JuĂ­zo, Inferno e ParaĂ­so.

Soneto VII – À Mesma Senhora

AlcĂ­one, perdido o esposo amado,
Ao céu o esposo sem cessar pedia;
Porém as ternas preces surdo ouvia
O céu, de seus amores descuidado.

Em vĂŁo o pranto seu d’alma arrancado
Tenta a pedra minar da campa fria;
A morte de seu pranto escarnecia,
De seu cruel penar se ria o fado.

Mas ah! — não fora assim, se a voz tivera
TĂŁo bela, tĂŁo gentil, tĂŁo doce e clara,
Daquela que hoje neste palco impera.

Se assim cantasse, o tĂșmulo abalara
Do bem querido; e, branda a morte fera,
Vivo o extinto esposo lhe entregara.

SolilĂłquio

JĂĄ que o sol pouco a pouco se desmaia
E meu mal cada vez mais se desvela,
Enquanto a pena, a Ăąnsia, a mĂĄgoa vela,
Quero aqui estar sozinho nesta praia.

Que bravo o mar se vĂȘ! Como se ensaia
Na fĂșria e contra os ares se rebela!
Como se enrola! Como se encapela!
Parece quer sair da sua raia.

Mas também que inflexível, que constante
Aquela penha estå à força dura
De tanto assalto e horror perseverante!

Ó empolado mar, penha segura,
Sois a imagem mais prĂłpria e semelhante
De meu fado e da minha desventura.

A Negra FĂșria CiĂșme

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fĂșria CiĂșme.

Sobre um sĂłlio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fĂșria CiĂșme.

Crespas vĂ­boras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fĂșria CiĂșme.

Arrancando Ă  Morte a fouce
De buĂ­do, ervado gume,
Vem retalhar coraçÔes
A negra fĂșria CiĂșme.

Ao cruel sĂłcio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fĂșria CiĂșme.

Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrĂ­vel dos monstros,
A negra fĂșria CiĂșme.

Amor inda Ă© mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fĂșria CiĂșme.

Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao ĂĄureo cume,
Porém de lå nos arroja
A negra fĂșria CiĂșme.

Do férreo cålix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fĂșria CiĂșme.

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Virtude e Pecado sĂŁo Inatos

Nenhum prĂ©mio certo tem a virtude, nenhum castigo certo o pecado. Nem seria justo que houvesse tal prĂ©mio ou tal castigo. Virtude ou pecado sĂŁo manifestaçÔes inevitĂĄveis de organismos condenados a um ou a outro, servindo a pena de serem bons ou a pena de serem maus. Por isso todas as religiĂ”es colocam as recompensas e os castigos, merecidos por quem, nada sendo nem podendo, nada pĂŽde merecer, em outros mundos, de que nenhuma ciĂȘncia pode dar notĂ­cia, de que nenhuma fĂ© pode transmitir a visĂŁo. Abdiquemos, pois, de toda a crença sincera, como de toda a preocupação de influir em outrem.
A vida, disse Gabriel Tarde, Ă© a busca do impossĂ­vel atravĂ©s do inĂștil. Busquemos sempre o impossĂ­vel, porque tal Ă© o nosso fado; busquemo-lo atravĂ©s do inĂștil, porque nĂŁo passa caminho por outro ponto; ascendamos, porĂ©m, Ă  consciĂȘncia de que nada buscamos que possa obter-se, de que por nada passamos que mereça um carinho ou uma saudade.
Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender, disse o escolista. Compreendamos, compreendamos sempre, e façamos por tecer astuciosamente capelas ou grinaldas que hão-de murchar também, as flores espectrais dessa compreensão.

Soneto III – A Um Infeliz

Geme, geme, mortal infortunado,
É fado teu gemer continuamente:
Perante as leis do Fado Ă©s delinqĂŒente,
Sempre tirano algoz terĂĄs no Fado.

Mas para nĂŁo ser mais envenenado
O fel que essa alma bebe, e o mal que sente,
NĂŁo te iluda o falaz riso aparente
De um futuro de rosas coroado.

Só males o presente te afiança:
Encrustado de vermes charco imundo
Se te volve o passado na lembrança.

Busca, pois, o da morte ermo profundo:
Despedaça a grinalda da esperança:
Crava os olhos na campa, e deixa o mundo.

Apenas Vi Do Dia A Luz Brilhante

Apenas vi do dia a luz brilhante
LĂĄ de TĂșbal no empĂłrio celebrado,
Em sanguĂ­neo carĂĄcter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.

Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mĂŁe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e em fim meu fado
Dos irmĂŁos e do pai me pĂŽs distante.

Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da pĂĄtria, longe da ventura,
Minhas faces com lĂĄgrimas inundo.

E enquanto insana multidĂŁo procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.

LXXVIII

Campos, que ao respirar meu triste peito
Murcha, e seca tornais vossa verdura,
NĂŁo vos assuste a pĂĄlida figura,
Com que o meu rosto vedes tĂŁo desfeito.

VĂłs me vistes um dia o doce efeito
Cantar do Deus de Amor, e da ventura;
Isso jĂĄ se acabou; nada jĂĄ dura;
Que tudo à vil desgraça estå sujeito.

Tudo se muda enfim: nada hĂĄ, que seja
De tão nobre, tão firme segurança,
Que nĂŁo encontre o fado, o tempo, a inveja.

Esta ordem natural a tudo alcança;
E se alguém um prodígio ver deseja,
Veja meu mal, que só não tem mudança.

XXXVIII

Quando, formosa Nise, dividido
De teus olhos estou nesta distancia,
Pinta a saudade, à força de minha ùnsia,
Toda a memĂłria do prazer perdido.

Lamenta o pensamento amortecido
A tua ingrata, pérfida inconstùncia;
E quanto observa, Ă© sĂł a vil jactĂąncia
Do fado, que os troféus tem conseguido.

Aonde a dita estĂĄ? aonde o gosto?
Onde o contentamento? onde a alegria,
Que fecundava esse teu lindo rosto?

Tudo deixei, Ăł Nise, aquele dia,
Em que deixando tudo, o meu desgosto
Somente me seguiu por companhia.

Vem Sentar-te Comigo, LĂ­dia, Ă  Beira do Rio

Vem sentar-te comigo, LĂ­dia, Ă  beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mĂŁos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nĂŁo fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mĂŁos, porque nĂŁo vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nĂŁo gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixÔes que levantam a voz,
Nem invejas que dĂŁo movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente nĂŁo cremos em nada,

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Um bigode Ă© muito mais do que uma pilosidade: Ă© uma metafĂ­sica. Vem acompanhado de conversas sobre a necessidade de estudar para ser alguĂ©m na vida, a utilidade de amortizar o crĂ©dito Ă  habitação, a urgĂȘncia de substituir as velas do carro, a saudade de quando o fado era o fado, a rĂĄdio era a rĂĄdio e a AmĂĄlia Rodrigues cantava o fado na rĂĄdio, tanto na Emissora Nacional como na Voz de Lisboa.

Tirano Deus Cupido

Que suspensĂŁo, que enleio, que cuidado
É este meu, tirano deus Cupido?
Pois tirando-me enfim todo o sentido
Me deixa o sentimento duplicado.

Absorta no rigor de um duro fado,
Tanto de meus sentidos me divido,
Que tenho sĂł de vida o bem sentido
E tenho jĂĄ de morte o mal logrado.

Enlevo-me no dano que me ofende,
Suspendo-me na causa de meu pranto
Mas meu mal (ai de mim!) nĂŁo se suspende.

Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto
Que para quem de ti nĂŁo se defende
Basta menos rigor, nĂŁo rigor tanto.

Destino

Quem disse Ă  estrela o caminho
Que ela hå-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como Ă© que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se Ă  flor branca ou Ă  vermelha
O seu mel hĂĄ-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti sĂł sei viver,
SĂł por ti posso morrer.

Eu Vi Dos PĂłlos O Gigante Alado

Eu vi dos pĂłlos o gigante alado,
Sobre um montĂŁo de pĂĄlidos coriscos,
Sem fazer caso dos bulcÔes ariscos,
Devorando em silĂȘncio a mĂŁo do fado!

Quatro fatias de tufĂŁo gelado
Figuravam da mesa entre os petiscos;
E, envolto em manto de fatais rabiscos,
Campeava um sofisma ensangĂŒentado!

– “Quem Ă©s, que assim me cercas de episĂłdios?”
Lhe perguntei, com voz de silogismo,
Brandindo um facho de trovÔes seródios.

– “Eu sou” – me disse, – “aquele anacronismo,
Que a vil coorte de sulfĂșreos Ăłdios
Nas trevas sepultei de um solecismo…”