Poemas sobre AusĂȘncia de Irene Lisboa

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Poemas de ausĂȘncia de Irene Lisboa. Leia este e outros poemas de Irene Lisboa em Poetris.

Pequenos Poemas Mentais

Mental: nada, ou quase nada sentimental.

I

Quem nĂŁo sai de sua casa,
nĂŁo atravessa montes nem vales,
nĂŁo vĂȘ eiras
nem mulheres de infusa,
nem homens de mangual em riste, suados,
quem vive como a aranha no seu redondel
cria mil olhos para nada.
Mil olhos!
ImplacĂĄveis.
E hoje diz: odeio.
Ontem diria: amo.
Mas odeia, odeia com indĂŽmitos Ăłdios.
E se se aplaca, como acha o tempo pobre!
E a liberdade inĂștil,
inĂștil e vĂŁ,
riqueza de miserĂĄveis.

II

Como sempres, hĂĄ-de-chegar, desde os tempos!
Vozes, cumprimentos, ofegantes entradas.
Mas que vos reunirĂĄ, pensamentos?
Chegais a existir, pensamentos?
É provável, mas desconfiados e inválidos,
Rosnando estĂșpidos, com cĂŁes.

Ó inĂșteis, aquietai-vos!
Voltai como os cĂŁes das quintas
ao ponto da partida, decepcionados.
E enrolai-vos tristonhos, rabugentos, desinteressados.

III

Esse gesto…
Esse desĂąnimo e essa vaidade…
A vaidade ferida comove-me,
comove-me o ser ferido!

A vaidade nĂŁo Ă© generosa, Ă© egoĂ­sta,
Mas chega a ser bela,

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Jeito de Escrever

NĂŁo sei que diga.
E a quem o dizer?
NĂŁo sei que pense.
Nada jamais soube.

Nem de mim, nem dos outros.
Nem do tempo, do cĂ©u e da terra, das coisas…
Seja do que for ou do que fosse.
NĂŁo sei que diga, nĂŁo sei que pense.

Oiço os ralos queixosos, arrastados.
Ralos serĂŁo?
Horas da noite.
Noite começada ou adiantada, noite.
Como Ă© bonito escrever!

Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto – o jeito.
Ao acaso, sem Ăąncora, vago no tempo.
No tempo vago…
Ele vago e eu sem amparo.
Piam påssaros, trespassam o luto do espaço, este sereno luto das horas. Mortas!
E por mais nĂŁo ter que relatar me cerro.
ExpressĂŁo antiga, epistolar: me cerro.
TĂŁo grato Ă© o velho, inopinado e novo.
Me cerro!

Assim: uma das mĂŁos no papel, dedos fincados,
solta a outra, de pena expectante.
Uma que agarra, a outra que espera…

Ó ilusão!
E tudo acabou, acaba.
Para quĂȘ a busca das coisas novas, Ă  toa e Ă  roda?

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