Poemas sobre Cartas

43 resultados
Poemas de cartas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Posso Te Dar

Posso te dar a carta de marinha
mas o traço que nela insinuasse
um entre tantos rumos
nĂŁo.

Posso te dar as tábuas de marés
mas a leve emoção de cavalgar
onda e onda apĂłs onda
nĂŁo.

Posso te dar os índices das águas
conforme as densidades, mas a branda
flutuação do casco
nĂŁo.

Posso te dar a rosa e o timĂŁo
mas o desequilĂ­brio concertante
ao balanço de bordo
nĂŁo.

Posso te dar exemplos de ancoragens
mas o galeio do barco seguro
retesando as amarras
nĂŁo.

Posso te dar o longe no binĂłculo
mas acolá das lentes a paisagem
convidando Ă  viagem
nĂŁo.

Posso te dar notĂ­cia do mar calmo
mas o rumor das franjas no espelhado
junto Ă  roda de proa
nĂŁo.

Posso te dar o gorro marinheiro
mas a pressĂŁo do linho nos cabelos
enquanto sopra o vento
nĂŁo.

Posso te dar a direcção da chuva
mas o gosto da baga salitrada
escorrendo no rosto
nĂŁo.

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Rodopio

Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas tĂ´rres de marfim.

Ascendem hĂ©lices, rastros…
Mais longe coam-me sois;
Há promontórios, farois,
Upam-se estátuas de herois,
Ondeiam lanças e mastros.

Zebram-se armadas de cĂ´r,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor…

Cristais retinem de mĂŞdo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços…
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segrĂŞdo.

Luas de oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lirios;
Contorcionam-se cĂ­rios,
Enclavinham-se delĂ­rios.
Listas de som enveredam…

Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.

Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emmaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos de anseantes…

(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas –
Um lenço, fitas, dedais…)

Há elmos, troféus, mortalhas,
Emanações fugidias,

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Males de Anto

A Ares n’uma aldeia

Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, á noite, só, bebia a noite ás taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
Aldeões! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.

Mas, atravez da minha dor,

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