Poemas sobre Contratempo

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Poemas de contratempo escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Qualquer Tempo

Qualquer tempo Ă© tempo.
A hora mesma da morte
Ă© hora de nascer.

Nenhum tempo Ă© tempo
bastante para a ciĂŞncia
de ver, rever.

Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.

Noite Afora

A quem devo dizer que em tua carne
se sobreleva o tempo e o duradouro,
mancha de Ăłleo no azul, alaga e intensifica
o contratempo a que chamei amor?

A quem devo dizer dos meus perigos
quando, o corcel furioso, olhei ao longe
e nĂŁo vi mais limites que o oceano
nem mais convites que o das ondas frias?

Como antepor o corte nas montanhas
— Liberdade — ao dever que a si mesma impõe a terra
de estender-se conforme o espaço havido?

MalĂ­cia do destino, ardil composto outrora…
Arde a grama da noite em que te vais embora,
e essa chama caminha, essa chama, essas vinhas,

essas uvas, cortadas noite afora.

O Deus Dará

ao deus-dará
vou como vou

tudo que sou
foi ou será

nĂŁo sei se o tempo
trará ou não
de supetĂŁo
um contratempo

quando galopa
age sem jeito
torna imperfeito
tudo que topa

o que está morto
morto ficou
quem o enterrou
lhe deu um porto

mas na memĂłria
de cada tarde
ainda que tarde
se conte a histĂłria

cada domingo
tem sua tarde
que sem alarde
cai como um pingo

mas há uma só
pra cada cum
e nĂŁo nenhum
que a atire ao pĂł

há uma apenas
que me recorda
em dose gorda
coisas amenas

que a tarde fique
como um menino
atento ao sino
e a se repique

Que a tarde guarde sempre o som de um sino
Ecoando alegrias de menino.

Poema para Galileo

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(NĂŁo, nĂŁo, Galileo! Eu nĂŁo disse Santo OfĂ­cio.
Disse Galeria dos OfĂ­cios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… Eu sei…
As margens doces do Arno Ă s horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligĂŞncia das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar – que disparate, Galileo!
– e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação –
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados sĂŁo.

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